quarta-feira, 2 de agosto de 2017
NÃO ME FALE DE SAUDADE!
Não me fale de saudade!
...se o teu mundo é cibernético,
E o teu tempo é tão escasso...
e não dá tempo de saber o que és de verdade,
onde o valor de uma amizade
não passa de uma tela fria!
Não... não me fale de saudade!
Por que saudade é coisa antiga...
São águas profundas de um rio da vida,
Onde navegam sonhos de um nunca mais.
Retalhos curtidos pelo tempo...
Lembranças de uma vida que ficou pra traz,
E ainda volta a remoer os sentimentos,
Como se a gente precisasse para viver em paz.
Como pode falar de saudade...
quem não tem tempo para gostar da vida?
Quem despreza uma casinha antiga...
Sem pés descalços a correr na grama,
Sem banhos de sangas...sem o fogão de lenha.
Sem as palavras doces, dos causo antigos...
Sem o abraço fraterno e o olhar dos avós?
Não...não me fale de saudade!
Por que saudade é chuva calma
Que lava os tormentos e alivia a alma,
É noite de lua em véus de luar...
Quando as luzes dos pirilampos,
Alumbravam sonhos de liberdade,
E a inocência fazia cama em brinquedos pobres,
Na penumbra das noites na luz de um lampião.
Eu sim...eu sei o que é saudade!
Por que vivi nesse tempo...
...em que se plantavam sonhos para colher o pão!
Com mesas fartas, das messes da terra,
Atulhando tulhas para as torreiras de verão.
Arado e boi, numa mesma verga...
Sementes fartas a germinar caminhos,
E Homens antigos de palavras fortes...
Sustentando os ranchos com calos nas mãos.
Tempo que o tempo achou de dar um fim
De cavalos mansos e brinquedo velhos...
O pão de forno...o leite na mangueira...
A vaca berrando bem longe da cria.
A felicidade estampada no olhar das crianças,
Brincando fartas em quintais enormes...
E a escolinha antiga, o poço de balde...
Varais de roupa a quarar nas gramas.
Como pode me falar de saudade!
Se na verdade nem sabes o que sentes,
Por que a saudade é muito mais que ausência,
É um mundo inteiro que tiraram da gente.
(E um mundo bom, diga-se de passagem),
Pedaços da infância que se perdeu de mim,
Esse tempo novo com tantas facilidades,
Tem um preço caro, para quem está no fim.
A solidão dos olhos de quem tem lembranças,
Sozinho num mundo que ele nunca fez...
Chorando à saudade, da vida à distância,
Só esperando a morte lhe chamar de vez.
Talvez um dia, quanto vier o tempo...
E o peso dos anos te cobrar a idade,
Sentirás o que sinto, o que perdi na vida,
E verás a dor, do que é ter, saudade!
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