quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Entre o abajur e o espelho!

Balbucia um vento norte,
Embebido de nostalgia...
Anunciando a noite morta,
Velada em paredes frias,
Metamorfose de sonhos...
Sentimentos em ebulição,
Fumaça solidificando imagens,
Na estupidez da Solidão!

Olhos insanos (goteiam),
Dores guardadas por dentro,
Bocas famintas desejam...
O mundo que passa lento.
E o tempo se faz escasso,
Ludibrie – de som profano,
Que vai corroendo pedaços,
De amores e desenganos.

Entre o abajur e o espelho,
Uma aranha faz sua obra...
Não quer saber de conselhos,
Inerte ao tempo que cobra.
Cospe a sua ira na teia...
Como a conter o espaço,
Enquanto a luz encandeia,
O espelho mostra o que faço.

O tempo esculpe no barro,
Banhado a gotas de vinho,
A borra de alguns cigarros,
Mostra que fiquei sozinho.
Onde o silêncio reclama...
Calado em sua masmorra,
Deita-se em minha cama,
Pedindo que lhe socorra.

Lúcidos – loucos – Poetas,
Que tem a noite por dia...
De vida insana e incompleta,
Vão alimentando-se de poesia.
Entre as parede do quarto...
Um caderno rabiscado...
Guardando tristes relatos,
Desses amores guardados.

E o vento beija a vidraça,
(Como a beijar a tua face),
Enquanto a lua faz graça,
Em cada verso que nasce.
E a mão que segura a taça,
Já tremulante, do vinho...
Limpa as lentes que embaça,
A louça do pergaminho.

Lençóis de seda e estampa,
Dobrados na forma de espera,
Contrastam a cortina branca,
De um quarto quase tapera...
Rabiscado em tons de gris...
Pelas paredes sem vida...
Como se o tempo, infeliz,
Não me quisesse de partida.

E aqui vivo, pra ser sincero,
Como um poema inacabado,
Porque o fim que mais quero,
Parece que me foi negado.
Então sigo sem meus amores,
Porque todos já me deixaram,
Com a sina dos sofredores...
Que da poesia se adonaram.

Bebericando as lembranças,
(Como a chicotear-me de relho),
Fico medindo a distância...
Entre o abajur e o espelho.
A embriagues me conforta,
Da dor dos meus pesares...
E me tranca ante a porte,
Bem longe do ecar dos bares.

Aprendi que a vida é incerta.
Num quarto frio de cimento,
Me fingindo de ser poeta...
Pra não morrer de lamentos,
E em cada noite pequena...
Golpeado ao tempo que faço,
Revivo ao bailado da pena...
E em cada verso...renasço!


Sem comentários:

Enviar um comentário