E já nasci dessa cor;
Venho do clã de uma raça,
Que me orgulha alma e
sentimento,
Pois passaram por muito tempo...
Escravos do próprio
preconceito,
Perderam a vida e o
direito,
Que faz um ser humano, feliz!
Sou negro, como tantos
outros,
Que ergueram campos e
cidades,
Que trazem marcas no
corpo...
Das correntes e dos
açoites...
Sou negro como as
noites...
Que tu te encanta ao
vê-la,
Que dá espaço às estrelas,
Por pensar em igualdade!
Sou filho dos porões
fétidos,
Dos navios de gente
branca,
Minha carne sofre na
dor...
Dos ferros que cortaram
pulsos,
Das lâminas que furaram
olhos,
Das chibatas e das
correntes.
Tenho olhos marejados de
dor,
Dos que morreram em
senzalas,
Erguendo na força do
braço...
Um País que os escravizou;
E quantos de lanças nas
mãos,
Pelearam pelas coxilhas...
Na busca da liberdade,
Que "Porongos", condenou!
Sim... sou negro sim!
E tenho orgulho de mim,
E já fiz história no
tempo,
Erguendo guetos e favelas;
Dando aconchego para os
filhos,
De pele branquinha, de
olho azulado,
Que saciaram a fome num
seio farto,
De uma negra que nem
lembrarem mais!
Carreguei no ventre filhos
mestiços,
Dos estupros e
humilhações...
Dei amor aos filhos
alheios,
Buscando curas nas
orações;
Fiz rezas e benzeduras,
Paguei promessas que não
eram minhas,
E saciei a fome de bocas
famintas,
Com o pouco que eu nem
tinha!
Sou negro, sim...
Como tanto dos meus...
Onde o poder da mão branca,
Humilhava, condenava,
matava,
E jogava como um trapo
velho,
Nas valetas sujas de
sangas rasas;
Depois esfregava sua
consciência imunda,
Nas rezas para o seu Deus!
Não sabem eles, meus
senhores!
Que o mundo carrega essas
dores,
Em cada um que se
acovarda...
Em cada palavra que
fere...
Em cada olhar que
castiga...
Em cada mão que chibata...
Porque o tempo passa,
As feridas fecham...
Mas as cicatrizes não
deixam esquecer.
E chegará o dia de um
juízo final,
De prestar conta diante
dos seus,
E todos que lavaram as
mãos...
Penarão nas sentenças de
Deus;
E quem sabe seus olhos de
espanto,
Boca imunda dos pecados e
segredos,
Dar-se-ão por conta de sua
maldade,
E em súplicas, chorarão
seu fim...
Quando descobrirem, na
verdade...
Que Deus é Negro, igual a
mim!
Sem comentários:
Enviar um comentário