Não...Não me entendam mal,
Eu morri, senhores!
Morri, como morre o tempo,
Que vai e deixa saudade,
Para um tempo novo
renascer.
Morri, como morrem as
noites,
Que partem em silêncio...
Dando luz ao um novo dia,
Bem mais claro, bem mais
forte,
Com as cores de um sol, ao
nascer.
Eu morri, senhores!
Morri para tudo o que não
vale a pena,
E para essa dor que me
condena,
A viver de uma saudade,
A viver de uma ansiedade,
Como se eu pudesse buscar
no tempo,
O tempo que eu não tenho
mais.
Morri, como morrem as
primaveras,
Os outonos, os invernos,
os verões.
E num ciclo de esperas e
tempos...
De morrer e renascer...
De viver buscando
horizontes novos,
De ver os dias passarem às
pressas,
De ver luas e sóis...
De ver noites e
estrelas...
De ver chuvas e ventos...
De ver sonhos sonhados...
De ter lembranças,
passados,
A gente se dá conta que
tudo já morreu,
E só nós vivemos
enclausurados,
No que somos, no que
pensamos, no que temos!
Por isso não chorem a
minha morte!
Por isso não busquem à
minha lápide.
Porque o que morreu não
foi o eu, carne,
O que morreu foi o eu,
apego...o eu mesmice.
Pois me afasto de tudo o
que não foi bom,
E solto nas águas
profundas os meus desapegos,
Pra renascer num novo
tempo, num novo espírito,
No mesmo corpo, na mesma imagem...
Mas com semblante renovado
num sorriso,
Num gesto e na beleza de
um olhar.
Não quero que lembrem da
minha morte:
Nem do dia e nem da hora.
Porque jamais importa a
partida,
Mas sim a chegada, quando
se abraça,
Quando se afaga e quando
se dá calor.
Meu corpo, que nunca foi
meu...
Continua aqui, da mesma
forma,
Com a mesma embalagem...
Mas o espírito, esse que
sempre foi meu,
Está mudado, com saudade
do tempo antigo,
Mas renascido num tempo
novo...
Cheio de vida, cheio de
sonhos, cheio de amor,
Tão feliz, rindo da minha
morte!
Não...não me entendam mal,
Mas às vezes temos que
morrer.
Sem dor, sem mágoas, sem
lágrimas,
E buscar dentro de cada um
o dia novo,
O sol brilhando, à chuva
mansa, a noite estrelada.
As primaveras que
florescem a vida...
Os invernos que esfriam os
desapegos...
Os outonos que enxovalham
os olhos...
E os verões que aquecem o
coração.
Pois somente assim, nos
encontraremos
Com o que temos, com o que
somos,
E então veremos que não
somos nada,
Apenas um corpo esperando
a sua morte!
Eu morri, Senhores!
Mas não chorem por mim.
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