quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Morri, Senhores!

Não...Não me entendam mal,
Eu morri, senhores!
Morri, como morre o tempo,
Que vai e deixa saudade,
Para um tempo novo renascer.

Morri, como morrem as noites,
Que partem em silêncio...
Dando luz ao um novo dia,
Bem mais claro, bem mais forte,
Com as cores de um sol, ao nascer.

Eu morri, senhores!
Morri para tudo o que não vale a pena,
E para essa dor que me condena,
A viver de uma saudade,
A viver de uma ansiedade,
Como se eu pudesse buscar no tempo,
O tempo que eu não tenho mais.

Morri, como morrem as primaveras,
Os outonos, os invernos, os verões.
E num ciclo de esperas e tempos...
De morrer e renascer...
De viver buscando horizontes novos,
De ver os dias passarem às pressas,
De ver luas e sóis...
De ver noites e estrelas...
De ver chuvas e ventos...
De ver sonhos sonhados...
De ter lembranças, passados,
A gente se dá conta que tudo já morreu,
E só nós vivemos enclausurados,
No que somos, no que pensamos, no que temos!

Por isso não chorem a minha morte!
Por isso não busquem à minha lápide.
Porque o que morreu não foi o eu, carne,
O que morreu foi o eu, apego...o eu mesmice.
Pois me afasto de tudo o que não foi bom,
E solto nas águas profundas os meus desapegos,
Pra renascer num novo tempo, num novo espírito,
No mesmo corpo, na mesma imagem...
Mas com semblante renovado num sorriso,
Num gesto e na beleza de um olhar.

Não quero que lembrem da minha morte:
Nem do dia e nem da hora.
Porque jamais importa a partida,
Mas sim a chegada, quando se abraça,
Quando se afaga e quando se dá calor.

Meu corpo, que nunca foi meu...
Continua aqui, da mesma forma,
Com a mesma embalagem...
Mas o espírito, esse que sempre foi meu,
Está mudado, com saudade do tempo antigo,
Mas renascido num tempo novo...
Cheio de vida, cheio de sonhos, cheio de amor,
Tão feliz, rindo da minha morte!

Não...não me entendam mal,
Mas às vezes temos que morrer.
Sem dor, sem mágoas, sem lágrimas,
E buscar dentro de cada um o dia novo,
O sol brilhando, à chuva mansa, a noite estrelada.
As primaveras que florescem a vida...
Os invernos que esfriam os desapegos...
Os outonos que enxovalham os olhos...
E os verões que aquecem o coração.

Pois somente assim, nos encontraremos
Com o que temos, com o que somos,
E então veremos que não somos nada,
Apenas um corpo esperando a sua morte!

Eu morri, Senhores!

Mas não chorem por mim.

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