quarta-feira, 2 de agosto de 2017

De Tempo e Saudade!

 Que mundo esse em que eu vivo,
Se o tempo me entropilhou de anos?
E as lembranças são potros ariscos
Que me castigam a memória,
E vão resvalando pelo folhar dos dias,
Amarelando os meus sonhos e o jeito de ser.

Que mundo é esse que me faz sofrer,
Que me faz chorar...que me faz sentir...
Se eu sempre achei o chegar dos anos,
Seria o tempo de um viver feliz.

Me restaram angústias e saudades boas,
O gosto amargo de um viver tão só...
Porque o mundo de hoje, não é meu mundo,
Não é o meu tempo, não é feliz!

Sinto falta dos pés descalços na terra molhada,
Do cheiro do campo, da calmaria dos matos,
Dos sois de janeiro, dos frios do inverno...
Do silencio das noites, em véus de luar...
Dos cavalos encilhas, as carreiras de piá.
As carretas rangindo ao tranco dos bois,
O cheiro das flores no beiral dos caminhos,
As aguas corrente das sanguinha de pedra,
E o berro do gado acordando as manhãs.

Mundo que era meu e dos meus sonhos,
Das estancias compridas até o pé da figueira,
Tropas inteiras que mal cabiam em mim...
Com gados silentes adormecidos no pó.

Que mundo é esse em que eu vivo...
Se me falta o sorriso, a palavra de afeto,
O abraço que eu tive no colo dos avós...
E as brincadeiras de rodas e luzeiros e vaga-lumes.
As camas de bastos e pelegos macios...
O fogo de angico chorando ao picumã,
E cheiro das manhãs nos ranchos de maria mol.

Me trancaram num tempo...
Que dizem ser moderno,
Onde tudo o que preciso não existe pra mim,
As pessoas não riem...as pessoas não choram...
As pessoas fingem...e fingir me faz mal.
Sei que sou de outro tempo...
Em que um abraço curava a dor,
E um sorriso era a forma mais doce,
De se falar de amor...
E quando pegava-se na mão...
Ou apenas um olhar roubado,
Já eram sonhos, enamorados,
Na inocência de ser feliz...
De ser amante, de ser amado,
E adormecer com olhos encharcados,
Nas esperança de um outro porvir.

A gente cresce pra o mundo,
E o mundo nos leva daqui...
E tudo o que parecia distante,
Impossível...
Torna-se fútil, pequeno e sem raiz.
Porque os amigos não são tão amigos...
Porque os amores, não são mais amores,
Porque os que amamos, também partem,
E nós passamos pelos fiapos do tempo,
Carregando lembranças e saudades...
Angústias e tristezas, esperas e partidas.

E agora que o tempo branqueou-me os cabelos,
Encurtando-me o passo, embaçou-me os olhos...
diminuindo a voz...
Já não grito com os bois na vergas,
Já não ando a passos largos...
Já não tenho mais sonhos moços,
Vivo por viver...
na esperança incontida de rever amores,
de encontrar os meus...
todos que sentiram o que sinto aqui,
mas me deixaram no tempo,
com a tristeza e a saudade...
porque sabiam que a gente morre,
quando nos tiram as vontades...
para ser apenas mais um corpo, sem verdade,

num tempo que nunca chega ao fim!

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