quarta-feira, 2 de agosto de 2017

À Sombra de um Esteio!

Tem um esteio cravado,
Onde palanqueia-se o verso,
E se reúnem os dispersos...
Que vivem de pingo alçado,
E vão fazendo seu legado,
Na forma xucra da rima,
Com tento e trança de crina,
E as sete dentes atadas,
Mordendo as almas judiadas,
Por essas noites brasinas.

É santuário dos declamadores,
Senhores da pampa eterna...
Onde a palavra que vos governa,
Tem força de outros valores...
Onde não cabem os senhores,
Que se ostentam de bravatas,
Velhos caudilhos de gravatas,
Alheios ao mundo que busco,
Que se aproveitam do lusco-fusco,
Para encher as burras, de prata!

Esteio sempre será esteio,
Firmando a quincha e o teto,
Do Santo chão predileto...
Onde a guitarra faz floreio,
Pr’um verso, um trago, um carteio,
Desses senhores da pampa,
Que trazem na sua estampa,
Da velha Pátria continentina,
Esse amor que jamais termina,
Mesmo fechando sua campa.

Tenho um esteio cravado,
Sustentando as coronárias,
De uma alma relicária...
De quem já foi safenado,
Tirou um pedaço sagrado,
Para dar espaço pros versos,
Pois sei que não me despeço,
Nem com reza e água benta,
Nem a força de mil tormentas,
Me tirarão deste universo.


A todos aqueles que trazem,
A essência dos campejanos...
No velho torrão aragano...
Lá adonde fazem paragem,
Desenhando a própria imagem,
Pelas folhas dos cadernos...
Num verso que será eterno,
Para os que vivem do arreio,
Cortando o Rio Grande ao meio,
Pelos confins dos invernos.

Por isso, hoje, eu me achego,
Nalgum galpão fumacento...
Trançando tento por tento,
Atirado sobre um pelego...
A donde encontro sossego,
Para guitarrear os sentimentos,
Buscando na pauta dos ventos,
As notas que ainda me falta,
Porque minha alma se exalta,
Com as cordas e seus lamentos.

Nesse santuário das rimas,
Pregadas junto a um esteio.
Cabedais do mundo alheio,
Vão talhando obras primas,
Que os literatos da esgrima,
Talvez condenem sua forma,
Pois onde não cabem normas,
Nem regras, nem preconceito,
Só quem tem alma no peito,
Sabe o valor que lhe informa.

Enquanto existir espaço...
E o picumã de um galpão,
Vamos esporeando a solidão,
Levando a grito e pelegaço,
Pois quem escora no braço,
E traz as lições de Caetano...
Não basta só ter tuitano,
Para enfrentar as mazelas,
E possa furar essa penela...
Onde cozinham desenganos.
  
Talvez até falte o respeito,
Pr’os que pensam igual à mim,
Pois se Deus me fez assim...
Talvez seja o meu defeito,
Ter o pampa por direito...
E um pingo alçado no freio,
Pois nunca faltará rodeio,
Pra quem tem tropa em porfia,
E vai sorvendo a poesia...

Calçado à sombra do esteio!

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