quarta-feira, 2 de agosto de 2017

A casa do sobrado!

Era uma casa antiga...
...de janelas grandes, de portas enegrecidas.
Onde parece que a vida não passava das paredes,
fechada ao mundo de fora, onde habitava, somente, dor e espanto.

Quantas vezes as crianças choraram diante dela?
Pareciam verem imagens...
Pareciam enxergarem vultos...
Pareciam conhecerem o mundo, que os adultos não viam.

As porta altas, sem vidros e nem vidraças...
As janelas trancadas, sem vida e sem sonhos.
O telhado com gatos pretos e escuridão...
...onde o mundo rangia, no silencio e nos medos,
Havia algo que ressoava nas funestas noites de solidão.

A casa do sobrado por muito tempo foi assim:
...de medo...de espanto...de solidão!

Minha avó, quando contava histórias, nelas sempre havia...
...uma casa antiga, de janelas escuras, de portas enegrecidas.
E as crianças dormiam, sonhavam e choravam...
Mas sempre queriam ouvir novas histórias...outras histórias...
...assombrosas e imaginárias nas invenções de vovó.

Um dia, alguém abriu a casa do sobrado...
...e lá da rua, nós meninos travessos, 
na curiosidade que habitava a inocência de um ser, 
queríamos ver os fantasmas...
...as mulheres de branco - das história da minha avó.
...os homens de barbas grandes e fúnebres carrancas.
...as crianças de cara suja, de roupa rasgada.
...os gatos pretos, de pelos compridos.
...a velhinha de cóqui, na cadeira de balanço.
Mas nada disso havia na casa.
Somente cortinas velhas lambusadas em pó...
...enfeitadas por teias finas de aranhas grandes.
...sofás antigos, já corroídos pelo tempo...
e uma vitrola muda, com discos rotos.

Subindo as escadas, a passos lentos,
Rangindo tábuas no bolor do tempo,
Vi um quarto no negror das horas,
Com camas rudes e brinquedos velhos.
Um espelho quebrado a distorcer imagens,
Um relógio antigo a conter o tempo...
Agigantando os medos, de quem não vive ali.

A casa do sobrado, que muitas vezes, me fez dormir mais cedo,
Hoje se abria, para mostrar que o mundo...
...o mundo que criamos
...os medos que criamos
...o tempo que guardamos,
São apenas espaços a fertilizar ideias,
e as histórias contadas pela minha avó,
Era apenas um jeito de mostrar...
aos guris arteiros, que já era hora de ir dormir.

Um dia, derrubaram a casa do sobrado.
- derrubaram os meus medos...
- derrubaram a imaginação das velhas histórias.
Levaram a minha avó...
...e fiquei aqui, esquecido no tempo, 
balbuciando com os meus fantasmas,
fantasmas que habitam a casa de um sobrado antigo...
...trancado nas paredes frias e no silêncio impertinente, do meu coração!

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