Sobre o manto da
garoa...
E um piazito andava a
toa,
Mais uma noite sem
sono,
Ali num triste
abandono,
Numa espera
impertinente,
Dessas que faz o
vivente,
Andar de porta em
porta,
Quando a alma não
suporta,
A ânsia, que há na
gente.
A Mãe também não
dormia,
Vendo a angústia do
filho,
Dois olhos quase sem
brilho,
Que pelo breu, se
perdiam...
Sentindo àquela chuva
fria,
Apunhalando um
coração
E buscando na
escuridão,
A imagem de outros
três...
Que se foram à mais
de mês,
Pra essa tal de
Revolução.
Como entender o que
sentem,
Àqueles que fazem à
guerra.
Manchando os sulcos
da terra,
Com o sangue da mesma
gente?
Como entender o que
sentem,
Os que se acham
maiorais...
E só lutam por seus
ideais,
Atrás do muro dos
quartéis,
Estampando as tiras e
anéis...
Em “estrelatos” de generais?
Em “estrelatos” de generais?
Tão logo, ouviu-se um
tropel,
Rasgando a noite
silente...
A Mãe de pronto
pressente,
(E o pressentimento é
cruel),
Vem à boca um gosto
de fel,
Num pensamento
andarilho,
Quando o relincho do
tordilho,
Ecoa como um brado de
adeus,
E dois olhos,
clamaram à Deus,
Que Siga junto ao seu
filho.
E assim, se foram os
quatro,
Deixando a pobre
solita...
E numa carta mal
escrita,
Sob o amarelo de um
retrato,
Trazendo um triste
relato,
Do Piá que parte pra o
mundo,
Levando o sonho
profundo,
De ver esta Pátria
liberta,
Pois, se a vida lhe é
incerta,
Os sonhos ainda são
fecundos.
E ali ficou ela
sozinha...
Remoendo os
pensamentos,
Debruçada no
ressentimento,
De cada notícia que
vinha,
Quem um dia, foi a Rainha,
E já teve um lar para
trono,
Hoje, sofre no
abandono...
Sem ter direito à
sonhar,
É um corpo triste à
penar,
Vagando noites, sem
sono.
Um dia, chegou a sua
vez...
Cansou de viver na
espera,
Deixou o rancho,
tapera,
(Que morria a cada
mês),
Soltou um lote de
“rês”,
Algum guaxo e
orelhano,
Montou um petiço
ruano,
E mandou-se campo
afora,
Bebendo a angústia da
aurora,
Pra banda dos
Castelhanos.
E assim, passou o
tempo,
Vendo o cruel das
batalhas,
Que deixam restos e
mortalhas,
Largadas na dor dos
ventos,
Vão apodrecendo ao
relento,
Cortados a lanças e
adagas,
Numa crueldade,
macabra...
De Irmão matando
Irmão,
Sem justiça e sem
razão,
Na ganância que
propaga.
Como pode entender a
guerra,
Quem nasceu para dar
amor?
E carregou no ventre,
a dor...
De parir os filhos da
terra,
Como pode entender a
guerra,
Quem não tem olhos de
cobiça?
E ainda acredita na
justiça,
Se não dos Homens, de
Deus,
E chora a ausência
dos seus,
Na fé que a vida é
premissa.
Mas um dia, foi
cansando...
De andar vagando
sozinha,
E em cada notícia que
vinha,
Pegava seus olhos
chorando,
Mas sem saber, até
quando?
Tempo que a guerra
determina,
Com campos, casas em
ruínas,
Vertendo sangue nas
coxilhas,
Onde as bandeiras
caudilhas...
Tribulam na carnificina.
De que vale esta
matança?...
De que vale o
Caudilhismo?
De que vale o
ativismo,
Se só a dor fica de
herança?
E a injustiça ainda
se avança,
Como as pragas
daninhas,
Que nunca chegam
sozinhas,
Na vida de um pobre
vivente,
Que vê o mundo de repente...
Levando tudo o que
tinha.
Então ela, se cansou
da vida,
Então ela, se cansou
da morte,
Andando há anos, sem
norte,
Pediu a Deus uma
despedida,
Mas não podia morrer
perdida,
Como morrem, os
andarilhos...
Sem ver o fim dos
Caudilhos,
Que se aproveitam da
guerra,
Sem ver de novo, a sua
terra,
Sem ver de novo, seus
filhos.
E ela voltou, após
anos...
Andando por estes
confins,
Viu a guerra chegar
ao fim,
Mas a Paz era um
desengano,
Nunca mudou os seus
planos,
Com a esperança de
escolta,
Mas ainda havia uma
revolta...
Que enchiam olhos, de
dor,
Até ver, lá no fio do corredor...
Os quatro, vindo de
volta!
Só ela sabe o que
passou!
Só ela sabe o que
sentiu!
Se a vida lhe é um
desafio...
Mas o sonho não
acabou.
Se a guerra lhe
castigou,
É ciclo que, hoje,
encerra,
Lembranças que ela
enterra,
Pra que não ande à Deus dará,
Pois a história
jamais falará,
Da dor das Mães, da
guerra!
Sem comentários:
Enviar um comentário