quarta-feira, 2 de agosto de 2017

As Mães, da guerra!

Caía um breu de outono,
Sobre o manto da garoa...
E um piazito andava a toa,
Mais uma noite sem sono,
Ali num triste abandono,
Numa espera impertinente,
Dessas que faz o vivente,
Andar de porta em porta,
Quando a alma não suporta,
A ânsia, que há na gente.

A Mãe também não dormia,
Vendo a angústia do filho,
Dois olhos quase sem brilho,
Que pelo breu, se perdiam...
Sentindo àquela chuva fria,
Apunhalando um coração
E buscando na escuridão,
A imagem de outros três...
Que se foram à mais de mês,
Pra essa tal de Revolução.

Como entender o que sentem,
Àqueles que fazem à guerra.
Manchando os sulcos da terra,
Com o sangue da mesma gente?
Como entender o que sentem,
Os que se acham maiorais...
E só lutam por seus ideais,
Atrás do muro dos quartéis,
Estampando as tiras e anéis...
Em “estrelatos” de generais?

Tão logo, ouviu-se um tropel,
Rasgando a noite silente...
A Mãe de pronto pressente,
(E o pressentimento é cruel),
Vem à boca um gosto de fel,
Num pensamento andarilho,
Quando o relincho do tordilho,
Ecoa como um brado de adeus,
E dois olhos, clamaram à Deus,
Que Siga junto ao seu filho.

E assim, se foram os quatro,
Deixando a pobre solita...
E numa carta mal escrita,
Sob o amarelo de um retrato,
Trazendo um triste relato,
Do Piá que parte pra o mundo,
Levando o sonho profundo,
De ver esta Pátria liberta,
Pois, se a vida lhe é incerta,
Os sonhos ainda são fecundos.

E ali ficou ela sozinha...
Remoendo os pensamentos,
Debruçada no ressentimento,
De cada notícia que vinha,
Quem um dia, foi a Rainha,
E já teve um lar para trono,
Hoje, sofre no abandono...
Sem ter direito à sonhar,
É um corpo triste à penar,
Vagando noites, sem sono.

Um dia, chegou a sua vez...
Cansou de viver na espera,
Deixou o rancho, tapera,
(Que morria a cada mês),
Soltou um lote de “rês”,
Algum guaxo e orelhano,
Montou um petiço ruano,
E mandou-se campo afora,
Bebendo a angústia da aurora,
Pra banda dos Castelhanos.

E assim, passou o tempo,
Vendo o cruel das batalhas,
Que deixam restos e mortalhas,
Largadas na dor dos ventos,
Vão apodrecendo ao relento,
Cortados a lanças e adagas,
Numa crueldade, macabra...
De Irmão matando Irmão,
Sem justiça e sem razão,
Na ganância que propaga.

Como pode entender a guerra,
Quem nasceu para dar amor?
E carregou no ventre, a dor...
De parir os filhos da terra,
Como pode entender a guerra,
Quem não tem olhos de cobiça?
E ainda acredita na justiça,
Se não dos Homens, de Deus,
E chora a ausência dos seus,
Na fé que a vida é premissa.

Mas um dia, foi cansando...
De andar vagando sozinha,
E em cada notícia que vinha,
Pegava seus olhos chorando,
Mas sem saber, até quando?
Tempo que a guerra determina,
Com campos, casas em ruínas,
Vertendo sangue nas coxilhas,
Onde as bandeiras caudilhas...
Tribulam na carnificina.

De que vale esta matança?...
De que vale o Caudilhismo?
De que vale o ativismo,
Se só a dor fica de herança?
E a injustiça ainda se avança,
Como as pragas daninhas,
Que nunca chegam sozinhas,
Na vida de um pobre vivente,
Que vê o mundo de repente...
Levando tudo o que tinha.

Então ela, se cansou da vida,
Então ela, se cansou da morte,
Andando há anos, sem norte,
Pediu a Deus uma despedida,
Mas não podia morrer perdida,
Como morrem, os andarilhos...
Sem ver o fim dos Caudilhos,
Que se aproveitam da guerra,
Sem ver de novo, a sua terra,
Sem ver de novo, seus filhos.

E ela voltou, após anos...
Andando por estes confins,
Viu a guerra chegar ao fim,
Mas a Paz era um desengano,
Nunca mudou os seus planos,
Com a esperança de escolta,
Mas ainda havia uma revolta...
Que enchiam olhos, de dor,
Até ver, lá no fio do corredor...
Os quatro, vindo de volta!

Só ela sabe o que passou!
Só ela sabe o que sentiu!
Se a vida lhe é um desafio...
Mas o sonho não acabou.
Se a guerra lhe castigou,
É ciclo que, hoje, encerra,
Lembranças que ela enterra,
Pra que não ande à Deus dará,
Pois a história jamais falará,
Da dor das Mães, da guerra!


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