Com dedos em formas de garras...
Enrijecidas na parte adunca dos calos,
Desenhavam os mapas da vida...
Pelas linhas profundas de um M,
Que pareciam sangas já secas,
Transbordadas em outras enchentes.
As mãos do meu avô eram abrigo,
Quando embalavam os meus sonhos,
Cantarolando com a sua voz rouca,
Cantigas que ainda trago na alma,
E olhando no verde dos meus olhos,
Balbuciava as frases mais ternas,
Com palavras tão doces e tão suas,
Que ainda me sinto o mesmo piá...
Choramingando para ter seu colo.
Quando dos meus primeiros passos,
Cambaleando as pernas tortas,
Buscava encontrar as suas mãos...
Para me segurar dos tombos;
E aquele sorriso esbugalhado,
Sulcados por grandes vergas...
Que desenhavam a fronte séria,
De uma barba branca e rala.
E depois... Já piazote taludo...
Quando encilhava um petiço,
E saíamos a recorrer os campos,
Refazer as cercas, juntar o gado;
E aquelas mãos grandes e fartas,
Se agigantavam no cabo do arado,
Abrindo vergas no coice do tempo,
Socando terra nos buracos da vida.
As mesmas mãos que torciam arames,
Sustentavam touros no golpe do laço...
Torciam atilhos na cabeças da tramas,
Sofrenavam potros só com tento e crina...
Ponteavam milongas no braço do pinho,
Acariciavam as cuias nas horas dos mates,
Me afagava os sonhos na hora do sono,
E juntavam-se em reza na oração da fé!
Sei que o tempo é campo deserto...
Por onde passamos para deixar marcas,
E as dores são mãos que apontam o rumo,
Que por vezes, nos chicoteiam...
Quando nos perdemos nas manhas da vida,
Sem querer buscar o caminho certo.
Assim eram as mãos do meu avô!
O equilíbrio para os meus passos falsos,
O abrigo para os tempos de invernia,
A carícia para as horas tristes da dor;
Ágeis pelo pontear das cordas...
Rudes e fortes no apontar dos dedos,
Leves e brandas no afagar do sono,
Amiga e parceira no apertar do adeus.
A vida por si não contempla lamentos,
E nos dá a certeza que o tempo se foi,
E o que fica do tempo, além dos sonhos,
São apenas imagens a elucidar a alma;
E um dia as mãos que me deram afago...
Que foram carinho nas horas da dor,
Se postaram inertes, tão juntas e tão só,
Sobre um corpo estirado quieto e frio.
No olhar de quem fica, marejado de dor,
O silêncio é castigo (rebenque que bate),
E o coração apertado na ânsia mais terna,
Sufoca as lembranças em fotos amarelas;
E parte sem adeus, sem mãos abanando,
Talvez o encontrarei num tempo depois,
O que ficou escondido, cada palmo de campo,
Que o tempo e a vida guardou de nós dois.
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