“Havia uma pedra no meio
do caminho”
Onde todos encontravam e
não podiam passar,
(Foi o que me disseram
quando me fiz andarilho).
Mas busquei as estradas do
mundo...
Sem rumo, sem pressa, só
por andar.
E rebusquei distâncias, deslumbrei
horizontes,
Contornei montes, pedras e
sangas.
Encontrei pedras de
diversas formas e tamanhos,
Algumas negras e rijas,
outras lindas e brilhantes,
E descobri que pedras são
minúsculos grãos de areia
Que unidos pela força dos
ventos, se agigantam,
se fortalecem e esculpem
belezas deixadas no caminho.
Um dia, sem querer,
comecei a juntá-las,
(As pedras que haviam no
cominho)
E descobri que eram
frágeis como areia,
Que eram belas como o
sol...
Que eram valiosas como o
ouro,
Que eram divinas como o céu.
Que cada uma, na sua forma
ou cor,
Tinha o seu valor diante
aos olhos,
E sonhos de cada um.
Percebi que os caminho
onde haviam pedras,
Eram mais resistentes, e
que caminhar
entre elas é melhor que
andar na areia frouxa,
...no barro molhado, na
lama fria, no capim alto.
E vi que as pedras que me
machucavam,
Eram aquelas em que eu não
tinha carinho,
E manejava-as com garras afiadas e pés rudes,
sentimentos bruscos e
maldosos..
...coração doido, de
angústia e solidão!
Descobri que as pedras não
andam...
Permanecem o tempo todo no
caminho,
cabe a cada um saber
contorná-las,
ultrapassá-las e tirá-las
para que outros cruzem.
Nenhuma vem contra ti se
não fores lançada
pela mão de alguém...
Nenhuma sai do lugar se
não fores forçada
por uma força maior...
Nenhuma te fere o corpo, se
teu corpo não
fores rudes contra elas.
“Havia uma pedra no meio
do caminho”
Tão grande e tão forte que
não havia mais caminho,
Ninguém mais por ali
passava...
E foi na sua sobra que
construí o meu ninho,
Com todas as outras pedras
que juntara.
Ergui um castelo de
sonhos...
Com quartos, varanda e
alpendre...
E um canto só para a
poesia,
Janelas grandes de frente
para o mar,
E portas abertas para o
sol nascer.
E na sombra dessa pedra eu
vi outras pedras,
Cantarolando com a força
das águas...
Solfejando com a voz do
vento...
Alucinadas com a luz do
sul...
Sendo ninho para outros
ninhos...
Dando vida para outras
vidas...
Sendo casa e aconchego.
E assim me fiz pedra...
E assim me fiz templo...
Fortaleza que não se
abate,
Que na rigidez do meu
eu...
Se agiganta e fere...
Mas, se acariciado,
brilha...
Se, lapidado, vale ouro...
Se, moldado. vira
castelo...
...e vira sombra pra
muitos outros.
Aprendi com o tempo que
somos areia,
Frágeis e tenras que
escorrem pelas mãos,
e que só nos tornaremos
pedras:
... fortes, rijas,
preciosas...
quando abraçados, unidos
na mesma força e ideal,
dando uma nova forma ao
mundo,
e não sendo entraves no
caminho de ninguém.
E a pedra que havia no meu
caminho,
Não mais existe...
sua forma tem outras
formas,
Sua cor tem outras cores,
seu tempo tem outro tempo,
Mas restou uma lasca
esculpida com uma estrela
e uma data na espera de
uma cruz
e outra data, no meu
final!
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