é a mesma que leva os
sonhos,
que escurece, às noites...
que clareia, aos dias!
Sentado ante à porta da
minha vida,
vi os caminhos estreitarem-se...
vi as pessoas partirem...
vi chegadas e saídas.
E diante de um quadro
emoldurado,
...onde o mundo lá de fora
não era igual ao meu,
vi a vida que o tempo me
roubou.
Gatinhando no parapeito do
mundo,
protegido pelo amor mais
fiel...
pela mão que afaga...
pelo colo que aquece...
pelo sorriso que
encanta...
sentado ante a mesma
porta,
eu me fiz amor, cheio de
cuidados e zelos,
saciando a fome num seio
farto de vida!
E depois veio tempo em
passos cambaleantes,
com palavras balbuciadas
sem compreender quem era;
...e a mesma porta, de formas
e jeitos,
se abria ao mundo, ao
matizar das cores,
e trazia-me o sol, com
raios dourados,
a dourar-me os sonhos, a
alimentar-me a fome,
sem pressa...sem
cúmplices...apenas luz de uma porta aberta!
Por muito tempo, foi
entrada e foi saída!
Foram chegadas e
partidas...
Foram lágrimas de despedidas...
E nas soleiras que já não
guardam os meus passos,
deixei rastros apagados
pelo tempo...
de um mundo, hoje, mudado,
envelhecido...
mal tratado... moribundo
no ataúde das ideias.
Houveram muitas portas
fechadas no mundo!
E ha tantos que vivem na
escuridão de uma clausura,
onde uma fenda,
entreaberta do passado...
traz a luz de um sol
fosco...
...de uma noite sem cor...
...de um céu sem
estrelas...
...de um mundo de dor!
E quando as imagens
tateiam pelas retinas,
nubladas por lembranças
esmaecidas...
vejo-me aqui, só, diante
da mesma porta,
que vive entreaberta na
minha saudade,
onde um dia passei para
conquistar um mundo...
...mundo que girou nas
força dos moinhos...
moendo vidas, moendo
sonhos, moendo o tempo,
e moeu a esperança que
vivia em mim!
Hoje as portas não se
abrem mais...
vivo preso no tempo que me
condenou,
onde a frieza de um quarto
me consome,
deixando-me apenas as asas
da poesia,
a onde voo para lugares
distantes...
Para mundos incertos...
Por caminhos loucos...
Por sentimentos fugazes...
de tantos, que, quais à
mim...
habitavam esse mundo...
habitavam esse mundo...
e que hoje, se soltam pelo
céu dos cadernos,
e alimentam o tempo com a
lucidez fiel...
dos que não encontram
portas...
...para lhes prender dos
sonhos...
Sonhos loucos de poetas
livres...
que as portas do tempo não
prenderão jamais.
Quase todas as portas que
se fecharam para mim...
... mas a poesia abriu uma
e não me deixou mais só!
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