quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Ao Redor do fogo!

Ao redor do fogo eu penso,
No abstrato das palavras...
Na simplicidade dos tempos,
Nos sentimentos guardados;
Busco e rebusco no baú da memória,
As lembranças mais antigas...
Àquelas que, invernaram,
Nos sentimentos mais profundos,
E vivem escondidas em algum
capão de mato da minha história.

Ao redor do fogo eu mateio!
Mateio as minhas ilusões...
Como se a vida fosse, água e erva,
Na simplicidade de um porongo,
Aquecida entre meus dedos...
E rebusco em cada gole, a saudade,
Carícias de alguém que já se foi,
Para o outro lado da cancela...
Sem ao menos, dizer-me adeus!

O fogo, no leve bailado das chamas,
Sarandeia entre a brasa e o tição...
Vestido de um cetim multicor,
Vem encantar os meus olhos,
E o calor de aquecer invernos...
Aconchega a minha alma vazia...
Ali na solidão dos meus dias,
Vou repontando sonhos,
Guardando sorrisos
E afogando as mágoas.

Bem ali ao redor do fogo,
Atropelo a manada do tempo,
Que talvez, por ser indelével, se perdeu!
E ficou trancado entre as paredes frias
das lembranças velhas...
Retrucando a angústia dos meus dias,
Cicatrizado na dor de uma saudade,
Saudade de campo!
Saudade da vida!
E do mundo que foi meu!

Mas como posso acreditar no tempo?
Mas como posso entender a vida?
Se tudo o que eu tinha, se perdeu...
Se as lágrimas secaram os sonhos,
E já não tenho mais gotas para chorar?

Mas como refazer os planos?
Se planos são sonhos mal dormidos,
caseirando no véu das retinas...
Inerte ao tempo mais profundo,
Amargando o céu da minha boca!

Bem ali ao redor do fogo!
Repasso frases soltas de um poema,
Que a pena da esperança rabisca,
Em formas de versos e rimas;
E no lusco fusco da noite morta,
Uma lua coada, de luz azul,
Adentra-se pela janela,
E senta-se ao meu lado,
Como se fossemos de outros tempos,
Mais antigos, mais amigos...
Estranhos seres,
De um pensar vazio!

Pois é ali ao redor do fogo,
Que eu me encontro...
(me encontro num mundo antigo)
E me perco de um tempo novo,
Rebuscando no amarelo dos retratos,
Emoldurados nas paredes da memória,
A minha própria vida...
A minha própria história!
E a história do meu povo...
que ao tempo se perdeu!

Vai-se a lua!
Vai-se a noite!
Vai-se o tempo!
Foram-se os sonhos!
E restou eu e meu pensamento;
Ali, inerte, clamando ao silêncio,
Buscando sentido para o tempo esquecido,
Que teima em rondar um rosto cansado,
Qual poema mal rabiscado...
Esperando um final.
Assim sou eu...

bem ali, ao redor do Fogo!

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