quarta-feira, 2 de agosto de 2017

A Guria da Maria!

 
Maria tinha nome de Santa...
E na santidade plantou sua fé,
Quando encontrou no José,
A esperança de outras tantas,
Sabendo que a flor que planta,
Tem beleza, mas tem espinhos,
E com tanto amor e carinho...
Seja muito pra um tempo rude,
Onde os exemplos, as atitudes,
Não se perdem nos caminhos!

Maria só tinha os anseios...
Que não iam além da janela,
De um simples barraco de favela,
Distante do mundo alheio...
Esperando por quem não veio,
Nas orações em que fazias...
Só tendo as barras do dia,
E a triste sina dos bichos...
Juntando as sobras do lixo,
Que o mundo lhe concebia.

José não era mais carpinteiro,
- o que fizera pela vida inteira -
Talhando Santos de madeira,
Que ia para o mundo inteiro,
Mas o modismo estrangeiro,
Criaram imagens diferentes...
Sem aquele toque inocente,
Da arte de quem falqueja,
Que dava vida para as Igrejas,
E empregava muita gente.

Maria e José se amavam...
E eram um exemplo de família,
Mas não orgulho para uma filha,
Que deles muito esperava...
Quando por uma tela, sonhava,
Com a riqueza das novelas,
Estampando meninas belas,
Com sua vaidade e ganância,
Sem mostrar a longa distância,
Do mundo deles e o dela.


Pouco importa se tem amor,
Quando é o luxo que importa,
E o mundo além da porta,
Oferece o seu esplendor...
Pra os olhos de um sonhador,
De nada adiantam os conselhos...
Quem nunca dobra os joelhos,
Diante das dores da vida...
Enxerga a alma destorcida,
Pelos reflexos dos espelhos.

É triste a história da Maria...
Que lutava tanto pela família,
Não podia dar aos sonhos à filha,
O mundo que ela tanto queria,
Talvez, por esta rebeldia...
Pelos caprichos de adolescente,
Que faz uma menina inocente,
Diante das mazelas vida...
Tornar-me mais uma bandida,
Tirando vidas de gente!

Tentava escrever sua história,
Longe das mentes sadias...
A Bandida – da guria da Maria,
Teve seus momentos de glória,
Mas se o mundo tem memória,
Pelos labirintos das favelas...
Quem aprendeu co’as novelas,
Como se pratica um crime,
Hoje tem a lei que lhe oprime,
Ante as grades frias das celas.

Pois sonhar nunca é demais...
Quando a esperança tem razão,
Mas sempre haverá o perdão,
Dentro do coração dos Pais...
- Pois nem os dedos são iguais -
E todos tem as suas vontades,
Mas nunca o ódio e a vaidade,
Pode ofuscar esse amor...
E um filho sempre terá valor,
Pra Mãe que ama de verdade.

Por isso que, Maria, chora...
Carregando o mundo nas costas,
Pois sabe que a vida imposta,
Passará a qualquer hora...
De joelhos, reza e implora,
A um anjo que lhe deu ouvido...
Por José, mesmo, esculpido,
Nas paredes de um barraco,
Juntando todos os cacos,
Daquele amor concebido!

Logo Começará outro dia...
De matar tanta saudade,
Com a filha em liberdade,
E uma esperança tardia,
Mudada, a guria da Maria,
Aprendeu na triste ocasião,
Que o mundo numa prisão,
Não é o que uma Mãe sonha,
E diante à seus pés se ponha,

Uma nova alma – e o perdão!

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