quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Com os olhos do coração!

 A luz que a vida me tirou,
Porque o destino assim quis,
Não me fez um ser infeliz...
Tão pouco menos do que sou,
Se foi o tempo que determinou,
Sem luz por toda a existência...
Ganhei de Deus a dolência...
Bem mais que a própria razão,
E tenho os olhos do coração...
Dando-me luz pra consciência.

Teu rosto que ainda não vejo,
Por esta ausência de visão...
Enxergo ao toque das mãos,
Ou pela carícia dos teus beijos,
Que se avizinham aos desejos,
Ardendo em chama e calor...
Para um coração sonhador,
Pouco importa a tua imagem,
Pois mais belo que a paisagem,
É este universo do amor!

Quando a teu corpo me entrego,
Mergulhado em tenro espaço,
Meu mundo é entre teus braços,
Tu és, a minha dona, não nego...
E pouco importa, se sou cego,
A luz que me falta à retinas...
Como a noite negra descortina,
Ungido a paz de um momento,
Onde só basta um sentimento,
(É tudo que o amor, nos ensina).

Quando quero ver as flores...
O campo vasto, as coxilhas,
Caminho entre as maçanilhas,
E vou imaginando, suas cores,
Criei imagem dos corredores...
De rios, de matas e de estradas,
Como se fossem formadas...
Num mundo dentro de mim,
Aonde o tempo não tem fim...
E tudo é parte de um nada!

Para muitos, isso é a dor...
É parte dura. É sofrimento!
Mas ninguém enxerga o vento,
E todos sabem do seu valor...
Ninguém pode ver o calor,
E tantas coisas que existem,
Enquanto muitos insistem,
Na pior cegueira da vida...
Que é ter a imagem distorcida,
Que a tantos olhos, persistem.

Não precisa ter pena de mim!
Nem tão pouco ficar condoído,
Me restam os outros sentidos,
E foi Deus que me quis assim,
Sem ter a luz, não é o fim...
Quando há, amor verdadeiro,
Os sonhos são derradeiros...
E em cada toque dos dedos,
Tateando à luz dos segredos,
Te busco apenas com o cheiro.

Há tantos, que tentam ver...
O que os olhos jamais verão,
Pois o belo não está na visão,
Mas no interior de cada ser!
Só os olhos não conseguem ter,
Quando a alma ressente na dor,
E a vida vai perdendo o valor,
A  cada um que anda sozinho...
Carregando apenas espinhos,
Sem nunca conhecer a flor!

Se o amor que trago é infinito,
(E o meu coração é quem diz)
O mundo em que vivo é feliz,
Por certo, também, é bonito!
Onde cada ser é bendito...
Se, crer na luz do perdão,
No simples toque das mãos,
Sinto o teu corpo, teus beijos,
E são por elas que te vejo...

Com os olhos do coração!

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