quarta-feira, 2 de agosto de 2017

De Pátria, tempo e verdade!

A madrugada retrucou fria
Pelos cantos da galpão...
E o velho angico chorão,
Vem fazendo a cantoria...
Tenteando as barras do dia,
Sorvendo o último mate...
Trazendo o calor do catre,
Na baeta dum poncho negro,
Que guarda algum segredo,
Do que chamamos, saudade.

Um berro, rasga a quietude,
Deste silêncio madrugueiro,
E o campo acorda por inteiro,
Fumaceando a água do açude,
Talvez só o tempo que ajude...
Na imensidão deste posto,
Onde os mates trazem gosto,
De vida, tempo e saudade...
E os sonhos despem verdades,
Nas frias manhãs de agosto.

Retumba um ronco final...
Por este porongo bendito,
Parece um hino proscrito,
Na magia do mesmo ritual,
Onde a simplicidade do metal,
Que conduz a seiva quente,
Traz força pra alma da gente...
Pleno calor que conserva...
Pelo gosto amargo da erva,
O passado se faz presente.

Encosto, aos pés do tição...
Cuia e cambona cascurrenta,
Bombeando a manhã cinzenta,
Pelas frestas do galpão...
E o relincho de um redomão,
Já é um convite, pras horas...
Pra retossar campo afora...
Na imensidão destes pastos,
Ouvindo cantigas de bastos,
Num contraponto de esporas.
  
Boceja a goela dos ventos,
Num parapeito de mato...
Trazendo um triste relato,
Que se perdeu pelo tempo,
Onde gemidos, são alentos,
Pras almas de outras eras,
Que vivem pelas taperas...
Pelos fundões de invernadas,
Sedentas, almas penadas...
Que não se cansam da espera.

O campo, guarda em segredos,
O que a história não conta...
E o destino nos apronta,
De angústia, calmas e medos,
Pra o taura que salta cedo,
E na solidão destes fundos,
Perdido entre dois mundos,
O real e o da imaginação...
Parece ver assombração,
Num sentimento profundo.

Quem traz a Pátria, no arreio,
Pelo trono das encilhas...
Descabelando maçanilhas,
Cuidando os “tareco alheio”,
Conhece bem o rodeio...
E a tropa quando se estende,
Pra o modernismo não se rende,
Nem pra conceitos banais,
Porque nós somos regionais,
Antes de sermos, continente.

A minha lição vem do campo,
Das coisas que eu conservo,
E se o mundo que observo,
É feito de pretos e brancos,
Não me importo de ir ao tranco,
O importante é chegar ao fim,
Pois o campo fez-me assim,
E é dele que tiro o sustento,
Trançando o próprio tento,
Que a vida guardou pra mim!

Tenho o respeito e nobreza...
Dos gaúchos de antigamente,
Que ainda vivem presente,
Pelas cabeceiras das mesas,
Trazendo a mesma certeza,
Pois um dia irão reconhecer...
Que enquanto o campo viver,
Com essas verdades que falo,
Basta um gaúcho de acavalo,
Pra não deixar a Pátria morrer!

Quem tem honra e verdade,
Como princípio e moral...
Pode ser mais universal,
Dentro da sua simplicidade,
Por que o sentido de igualdade,
Que muitos tem preconceito,
Talvez seja o grande defeito,
De apartar os da mesma tropa,
Quando, co’a morte, se topa,

Todos fedem do mesmo jeito.

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