quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Assim eram as estâncias!


 
Assim eram as estâncias...
Nos tempos de antigamente,
Quando este sul de continente,
Se perdia pelas distâncias...
Assim eram as estâncias...
De homens, tropas e campos,
Onde fios de cabelos brancos,
Valiam mais que contratos,
E chimango odiava maragato,
E maragato odiava chimango.

A vida tinha o seu preço...
E o preço de vida não se paga,
A lei era um fio de adaga...
E maula não tinha endereço,
A guerra tinha um começo,
Mas nunca havia um final,
Quase sempre o mesmo ritual,
Imperava a lei do mais forte,
A vida se pagava co'a morte,
E na morte todos são "igual".

Nos campos verdes da pampa,
Não haviam cercas ou aramados,
As coxilhas cobertas de gado...
E touros batendo guampas,
Contrastando as garças branca,
Que desenhavam banhadais,
Onde escaramuçavam baguais,
Esfogueteados de lombilhos...
E guechas amamentando filhos,
Sumidos pelos pafonais!

Na casa grande, a imponência,
Com rastros da escravidão...
Erguida em frente ao galpão,
Que ainda mantém a vivência,
Esteios da mais pura essência,
De quem faz Pátria, acavalo,
Acordando antes dos galos...
E se bandeando campo afora,
Ouvindo versos de esporas...
E tendo a pampa de regalo.

Mangueira de pedra moura,
Costeando um capão de mato...
Com aroeiras e unhas de gato,
Guanchuma, caraguatá e vassoura,
Bordada a ninhos de tesoura...
Que chegavam trazendo verão,
Um palanque cravado no chão,
Parecia estar enraizado...
De cerne puro, falquejado,
Pelos manotaços, de redomão.

A brutalidade era uma regra...
Pra quem lidava com potros,
Largava um e pegava outro...
Que domador não se entrega,
Lanhado a tombo e macega...
Domando a mango e tirão,
Era triste a sina de um peão,
Quando doma fazia parte...
Numa gineteada por arte,
Ou só pra honrar a tradição.

Bem assim eram as estâncias,
Nos tempos de antigamente,
Foram os mais belos presentes,
Que eu tive na minha infância,
Quando eu via a importância,
Do meu avô, campesino...
Solfejando coplas de um hino,
No ponteio de uma tropa...
Ou tirando touro das grotas,
Levando ao campo mais fino.

E num socadão de rodeio...
Quando atropelava um cavalo,
Dobrando turuno a pealo...
Como o senhor dos arreios,
Sob o manto do tempo feio,
Tirando gado da enchente...
Ou pelas tardes mais quentes,
Que adormeciam tranquilas...
O Thec-thec das esquilas,
Eram cantigas pra gente.
  
Eta! Rio Grande, terrunho...
Que se perdeu pelo tempo,
Deixando versos ao vento,
Escritos com o próprio punho,
Nas geadas brancas de junho,
Emponchando grama e capim,
Onde o progresso deu fim...
Pelas mazelas da ganância,
Bem assim eram, as estâncias...

Nos causos contados, à mim!

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