sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Uma tora de fundamento!

Não... não é por medo das cobras,
Que um taura se enforquilha...
Nem pra contemplar a coxilha,
Quando a saudade lhe cobra,
É por que um ventena se dobra,
Na xucra sina dos malos...
E vai tenteando no embalo,
A tirar do lombo, o vivente,
E só o calor das sete dentes,
Para dobrar um cavalo.

Não pensem que esses potros,
Se aporreiam por direito...
Não pensem que há outro jeito,
Quando vem um e vai outro...
Os bichos já nascem marotos,
Com rebeldias de ventenas...
E um taura não pode ter pena,
Porque esta lida é ingrata...
E só o peso de um tala chata,
E um talarear de chilenas.

Ninguém tem cimas de “loco”,
De brincar com o que é sério...
Mas é triste a sina do gaudério,
Que, da montaria faz pouco...
E quando arruma um choco,
N’algum ninho de macega...
É porque o bocudo se pega,
Jogando a vida com a sorte...
De pronto toureia a morte,
Que por ser bruxa, renega.

Por isso aprendi desde cedo,
A tirar coscas dos maulas...
Que não se prendem em jaulas,
Tão pouco guardam os medos,
Mas quando a força dos dedos,
Se entrelaçam numa trança...
Um taura traz de herança...
O aprendizado dos antigos,
E se vai toureando o perigo,
Pelos costumes que avança.
  
Mas um dia a sina maleva...
Dessas que chegam de manso,
“Balança a cola do ganso...”
E quase conheci as trevas,
Pois o tempo em que se leva,
Entre a vida e a morte...
É como uma xerenga de corte,
Atorando um tento macio...
Sentindo a angustia do fio,
Fraquejando a sina dos fortes.

Naquela segunda feira,
Eu voltava de um cambicho,
Depois de dias num bolicho,
Carteando a vida em borracheira,
Perdi tudo nas carreira...
Nesses picholeios de domingo,
Restou-me o poncho e o pingo,
E o rumo grande, das casas...
Mas quando um peão se atrasa,
É triste ver os respingos.

Cheguei na estância cedito,
Com sol de meia braça...
Andava jogado às traças,
Por um romance esquisito,
Desses de se ficar solito,
Contemplando noites e luas,
Co’a alma sentindo-se nua...
De uma saudade medonha,
Que a gente sempre sonha,
Tenteando ao golpe das puas.

Bocal, tento e rendilha...
E a coragem de contra posto,
Quem monta sempre por gosto,
Não pode refugar encilha,
Mas enfrentar uma tordilha,
Depois da noite comprida,
É sentir a alma partida...
De um corpo esgualepado,
Que há muito já vem judiado,
Pelos tironeios da vida.

São dois loucos em desatino,
Sentindo os golpes, à puaço...
Sustentando o corpo no braço,
Sofrendo o mesmo destino,
O mango em notas de um hino,
Vai contraponteando ao vento,
Externando um sentimento,
Sarandeando no mesmo embalo...
Um taura, solito e um cavalo,
Numa tora de fundamento!!!!

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