Não sei viver nesse tempo,
Em que quase tudo é banal,
De que adianta eu ser
universal,
Se não conheço minha
aldeia,
E o tempo que nos
rodeia...
Com a sua pressa infinita,
Não mostra o quanto é
bonita,
O clarão de uma lua cheia.
Não se tem olhos pra
vida...
Na simplicidade dos
momentos,
Não se afloram
sentimentos,
Que unem à força das
mãos...
Não se busca mais o
galpão,
Mate cevado, prosa de
amigo,
Não se ouvem os mais
antigos,
Tão pouco a voz do
coração!
Não se fala mais em
chasques,
Ronda de tropa,
pastoreio...
Nem domingos, de rodeio,
Nem pencas e carreiradas,
Nem farranchos, nem
madrugadas,
Tiro de laço e
boleadeiras,
Nem da cherenga
carneadeira,
Numa costela bem assada.
Não se fala em fogo
grande,
Pipa de água, utensílios...
Nem prosa de Pai e filho,
Num convívio tão fraterno,
Não se falam dos invernos,
Da geada branqueando o
pasto,
Nem da cantiga dos bastos,
Nem dum carinho paterno.
Não se fala em
manotaços...
De um bocudo que se
emborca,
“Torcendo o rabo da
porca”,
Na sina de um domador...
Por uma patacuada de amor,
Sente o seu mundo em
pedaço,
Sustentando um maula no
braço,
Só com Deus de
amadrinhador!
Não se ouvem mais
ponteios,
De uma guitarra terrunha...
Gastando a ponta da unhas
Deste as prima até a
bordona,
Nem o gaguejar da
cordeona,
Num rancho de chão batido,
Onde um mulato, escondido,
Vai pacholeando a sua
dona!
Não se tem mais
entreveros,
Pelos bolichos, aos
domingos,
Quando a garupa de um
pingo,
Era trono pr’uma
pinguancha,
Que chegava pedindo cancha,
Na mais terrunha
linguagem,
E enfeitando estas
paisagens,
Que a poeira não
desmancha.
Não sei viver noutro
tempo,
Que o tempo diz ser
presente,
Pois o tempo que há na
gente,
Guardado em forma de
ataúde,
Nos pede para termos
atitude...
Na mais singela compreensão,
Como quem lava o coração,
Na água morna de um açude.
Ou como quem mata a sede,
Na correnteza de uma
sanga...
Depois que a chuva em
manga,
Lavou a encosta dos
cerros...
Enquanto um casal de
“perros”,
Entoca uma mão pelada...
Mostrando que numa caçada,
Os bichos, também, cometem
erros.
É assim que a vida se
mostra,
E é assim que o tempo se
faz,
Se não podemos voltar
atrás...
Pra escrever uma nova
história,
Talvez os tempos de
glória...
Na bendição de algum
livro,
Ainda possa permanecer
vivo,
No âmago de cada memória.
Não sei viver nesse tempo!
Que querem me fazer
universal,
Se meu sentimento é
regional,
E aqui plantei a minha
raiz...
Se é o tempo mesmo que
diz,
Nestes anseios que eu
trago,
Tendo o pingo, a china e o
pago,
É o
que me basta para ser feliz!
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