sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Sentimento de Pátria e Verso!

Não sei viver nesse tempo,
Em que quase tudo é banal,
De que adianta eu ser universal,
Se não conheço minha aldeia,
E o tempo que nos rodeia...
Com a sua pressa infinita,
Não mostra o quanto é bonita,
O clarão de uma lua cheia.

Não se tem olhos pra vida...
Na simplicidade dos momentos,
Não se afloram sentimentos,
Que unem à força das mãos...
Não se busca mais o galpão,
Mate cevado, prosa de amigo,
Não se ouvem os mais antigos,
Tão pouco a voz do coração!

Não se fala mais em chasques,
Ronda de tropa, pastoreio...
Nem domingos, de rodeio,
Nem pencas e carreiradas,
Nem farranchos, nem madrugadas,
Tiro de laço e boleadeiras,
Nem da cherenga carneadeira,
Numa costela bem assada.

Não se fala em fogo grande,
Pipa de água, utensílios...
Nem prosa de Pai e filho,
Num convívio tão fraterno,
Não se falam dos invernos,
Da geada branqueando o pasto,
Nem da cantiga dos bastos,
Nem dum carinho paterno.

Não se fala em manotaços...
De um bocudo que se emborca,
“Torcendo o rabo da porca”,
Na sina de um domador...
Por uma patacuada de amor,
Sente o seu mundo em pedaço,
Sustentando um maula no braço,
Só com Deus de amadrinhador!

Não se ouvem mais ponteios,
De uma guitarra terrunha...
Gastando a ponta da unhas
Deste as prima até a bordona,
Nem o gaguejar da cordeona,
Num rancho de chão batido,
Onde um mulato, escondido,
Vai pacholeando a sua dona!

Não se tem mais entreveros,
Pelos bolichos, aos domingos,
Quando a garupa de um pingo,
Era trono pr’uma pinguancha,
Que chegava pedindo cancha,
Na mais terrunha linguagem,
E enfeitando estas paisagens,
Que a poeira não desmancha.

Não sei viver noutro tempo,
Que o tempo diz ser presente,
Pois o tempo que há na gente,
Guardado em forma de ataúde,
Nos pede para termos atitude...
Na mais singela compreensão,
Como quem lava o coração,
Na água morna de um açude.

Ou como quem mata a sede,
Na correnteza de uma sanga...
Depois que a chuva em manga,
Lavou a encosta dos cerros...
Enquanto um casal de “perros”,
Entoca uma mão pelada...
Mostrando que numa caçada,
Os bichos, também, cometem erros.

É assim que a vida se mostra,
E é assim que o tempo se faz,
Se não podemos voltar atrás...
Pra escrever uma nova história,
Talvez os tempos de glória...
Na bendição de algum livro,
Ainda possa permanecer vivo,
No âmago de cada memória.
  
Não sei viver nesse tempo!
Que querem me fazer universal,
Se meu sentimento é regional,
E aqui plantei a minha raiz...
Se é o tempo mesmo que diz,
Nestes anseios que eu trago,
Tendo o pingo, a china e o pago,
É o que me basta para ser feliz!

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