E junto a uma cruz, cravada,
Eu me ajoelho em oração...
Momento triste, na solidão,
Rodeado de mato e mutuca,
Onde o corpo do Negro Juca,
Descansa
à sete palmos, no chão.
Na
cruz falquejada às pressas,
Não
tem data e nem nome...
Mas
o certo é que jaz um homem,
Quem
tinha muito valor...
Que
carregou o peso da cor,
De
ser negro, preto, retinto...
Quando
a sorte vem no instinto,
Mata
e morre por amor.
Lembro
quando chegou na estância,
Àquele
piazote esmirrado...
No
fio do lombo dum tostado,
Que
mal trocava o passo...
Tão
grande era o cansaço,
Daquelas
duas criaturas,
Dois
vultos na noite escura,
Dois
corpos num só espaço.
Chegou,
e por ali foi ficando...
Era
o mandalete da estância,
Negrito
bueno, de confiança,
Tinha
destreza e aprumo...
Apelidado
de “pau de fumo”
Não
se importava com os risos,
Encontrava
em fim, o paraíso,
Encontrava
em fim, o seu rumo.
Encantou-se
com a criançada,
E
até brincava com elas...
Sinha
Flor menina bela...
Linda
como outros tantos,
Tinha
um sorriso de encanto,
Olhos
dolentes e meigos...
Pareciam
encantar-se com o negro,
E
a triste regra dos brancos.
O
Estancieiro diversas vezes,
Veio
ralhar com o negrinho,
Que
ficava por lá sozinho,
Olhando
as outras crianças,
Sabia
manter a distância,
Que
separa os desiguais...
Pois
tempo nunca é demais,
Pra
quem não perde a esperança.
E
assim o negrito, cresceu...
Em
poucos anos, se fez moço,
E
já se escorava no alvoroço,
Terceando
o ferro branco,
Bueno
de lida e no campo...
Deixou
de ser mandalete,
Fez-se
o melhor dos ginetes,
Honesto,
firme e franco.
No
ponteio de uma tropa...
Ou
cuidando a cavalhada,
Despontava
a madrugada,
Coplando
versos ao vento,
Tinha
agruras no pensamento,
Guardando
a dor da distância,
A
parte negra de uma infância,
Que
chuleava um sentimento.
Negro
Juca se fez homem...
E
ganhou o respeito da peonada,
Era
a pura estampa moldada,
Em
quase dois metros de altura,
Negro,
como a noite escura,
Forte,
valente e peleador,
Que
tinha um orgulho da cor,
Na
mais robusta figura.
Um
chapéu de aba grande...
Beijando
a gola de um pala,
Uma
barba preta e rala,
Redesenhando
o seu rosto,
Onde
o vermelho exposto,
De
um lencito maragato,
Pintava
um xucro retrato,
Na
fria noite de agosto.
Pois
é desta noite que falo,
De
uma história mal contada,
Onde
até os contos de fadas...
Perdem-se
em nuances de cor,
Negro
Juca e Sinha Flôr
Tinham
um romance escondido,
Sem
nunca terem percebidos,
O
preço alto de um amor.
Ninguém
sabia na estância,
Nem
tão pouco imaginava,
Que
a moça branca amava,
Àquele
Negro retinto...
São
essas coisas do destino,
Que
o tempo jamais explica,
Porque
que uma moça rica,
Vai
se encantar c’um teatino.
O
pior de tudo, que a moça,
Filha
única do estancieiro,
Tapada
de joia e dinheiro...
Não
soube esconder o segredo...
E
nos braços fortes, do Negro,
Se
rebuscava de um calor...
E
entregava-se ao amor,
Sem
pressa, sem juízo, sem medo.
O
catre quente de um galpão,
Por
entre trastes e encilhas,
Viu-se
a noite tordilha,
Acolher
a voz de um trovão,
Quando
o fogo dum mosquetão,
Abriu
um clarão no céu...
E
a parte negra de um véu,
Ecoou
em gritos, de não.
Mas
a distância era curta...
Entre
o Negro e o atirador,
E
ainda sentido o calor,
De
um amor que não apaga,
Com
a memória meio vaga,
Talvez
a morte que mande,
Viu
um corpo golfando sangue,
Bem
sobre o “s” da adaga.
Assim
dois corpos tombaram,
Na
mesma morte que chega,
É
a parte cruel e negra...
De
quem só queria amor,
E
a moça envolta ao pavor,
Clamando
à gritos de solta,
Chamando
os dois de volta;
Guasqueando
os golpes da dor.
De
nada adiantara os gritos,
De
nada adiantou o pranto,
Se
o amor de preto e branco,
O
mundo injusto condena,
Pra
sempre carregar às penas,
Da
solidão de quem fica,
Puxou
o gatilho, a moça rica,
Para
completar esta cena.
Hoje
o Velho, num mausoléu...
Descansa
no fogo do inferno,
Sem
saber que o amor é eterno,
E
a morte não justifica,
Negro
Juca e a moça rica...
Embora
os olhos não alcancem,
Seguiram
com seu romance,
Da
triste história que fica.
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