Não...não sei onde errei,
Mas sei que o meu erro
levou parte de mim!
Ontem meu filho disse pela
última vez:
- “Não te mete na minha
vida!”
E eu, com olhos
encharcados, calei!
Calei como calam-se todas
as Mães,
Chorei como choram, todas
as Mães,
E vi meu filho sair como
sempre fez!
Uma foto entre um rosário
e as flores,
Uma dor cortando um
coração...
Lágrimas, lembranças,
solidão!
Choro por perder um pedaço
de mim,
Por ser fraca, por ser
infeliz, por ser Mãe.
(Mãe que não queria ver um
filho assim).
Busquei pelos véus da
lembrança,
Aquela mulher sonhadora,
frágil,
Que viu a vida crescer em
seu ventre,
Que ouviu o mundo num
pulsar de vida,
Que sentiu a dor de noites
mal dormidas,
E a pele rasgando num
parto de amor.
Não tenho direito de
meter-me em sua vida,
Pois não me meti no teu
primeiro choro...
Na sua primeira dor de
barriga...
Na primeira noite de
insônia, embalando teu sono;
Levantando madrugadas para
trocar tuas fraldas,
Levando meu peito no frio
dos invernos,
...para saciar a tua fome.
Não...não tenho direitos!
Pois quando choravas, lá
estava eu,
...embalando o teu berço,
acariciando a tua fronte,
Cantando as canções quem
nem mesmo, eu sabia.
E nos teus primeiros
passos?
- quando cambalhantes, caias...e
choravas,
e de olhos marejados pedia-me
aconchego.
Lembro-me de tudo:
As febres que queimavam
mais à mim do que a ti...
As gripes que te sufocavam
o peito...
As sopinhas de feijão
esmagado...
As pastas de angu e leite.
Aquela mulher Mãe (frágil
como tantas),
Virava Anitas, feras cuidando
a cria...
Quantas vezes peleei com a
vida?
Quantas vezes chorei de
dor?
Quantas vezes velei o teu
sono?
Quantas vezes te dei amor?
Sim... eu não tenho que me
meter na tua vida!
Quando fostes para a
escola pela primeira vez,
...lá estava eu atrás da porta,
espiando-te,
(escondida esperando tu
ficares bem).
Quando chegavas em casa, o
lanche pronto,
A água quente para o teu
banho,
A roupa limpinha para o teu
afago,
A comida prontinha para a
tua fome.
Quantas vezes fiquei sem
comer, para te dar!
Quantas vezes eu chorei,
sem ter o que te dar!
Quantas vezes eu pedi, eu
clamei, eu consegui,
eu lutei, eu gritei sem ninguém ouvir...sem ninguém ver!
- Sem tu me pedires e dei-te o
que precisavas!
O que tu querias, o que tu
sonhavas!
E eu, mulher, vivendo
minha vida para ti,
Chorando nas tuas ausências
momentâneas,
Acordada, esperando o
rangir da porta, na tua chegada,
Levantando nas madrugadas
para te levar mais cobertas,
Brigando para te ver
sorrindo...
Lutando para te dar dias
melhores.
Não...eu não tenho o direito
de meter-me em tua vida!
Porque eu errei...
Errei em amar, em sonhar,
Em enfrentar o mundo para
ter o meu filho,
Fruto de um amor
irresponsável, para muitos,
Mas verdadeiro para o meu coração.
Errei em acreditar que a
vida é tudo,
E que vale à pena ser Mãe,
ser mulher,
Ser a fonte natural que
ilumina...
Que dá vida, que ensina,
que afaga, que amamenta,
E que colhe na felicidade
de ter um filho!
Tu crescestes como todos
crescem...
E o menino frágil, de
sorriso delicado,
De palavras doces, de
olhar terno...
Aprendeu, longe de mim, a
rebeldia do mundo.
A falsidade que impera com
a mentira,
A revolta dos adolescentes
mimados,
Que dão valores, a valores inúteis,
A conselhos fartos de
palavras tolas.
Hoje não tenho mais o meu
menino,
Não tive o amigo, o
companheiro,
O abraço forte, o beijo
lambusado.
Perdi... Perdi por amar de
mais...
E esquecer de que há um
mundo,
Tão imundo, tão sujo, tão
nojento,
Tão fétido e tão
escroto...
Que nos tira, tudo o que
temos...
E não nos dá a chance de
ser feliz.
Ontem meu filho disse pela
última vez:
“Não te mete na minha
vida!”
E não me meti.
Hoje, meu coração chora...
Chora por que com ele
enterrei uma parte de mim!
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