quinta-feira, 3 de agosto de 2017

QUANDO LEVARAM UM PEDAÇO DE MIM!

Não...não sei onde errei,
Mas sei que o meu erro levou parte de mim!

Ontem meu filho disse pela última vez:
- “Não te mete na minha vida!”
E eu, com olhos encharcados, calei!
Calei como calam-se todas as Mães,
Chorei como choram, todas as Mães,
E vi meu filho sair como sempre fez!

Uma foto entre um rosário e as flores,
Uma dor cortando um coração...
Lágrimas, lembranças, solidão!
Choro por perder um pedaço de mim,
Por ser fraca, por ser infeliz, por ser Mãe.
(Mãe que não queria ver um filho assim).

Busquei pelos véus da lembrança,
Aquela mulher sonhadora, frágil,
Que viu a vida crescer em seu ventre,
Que ouviu o mundo num pulsar de vida,
Que sentiu a dor de noites mal dormidas,
E a pele rasgando num parto de amor.

Não tenho direito de meter-me em sua vida,
Pois não me meti no teu primeiro choro...
Na sua primeira dor de barriga...
Na primeira noite de insônia, embalando teu sono;
Levantando madrugadas para trocar tuas fraldas,
Levando meu peito no frio dos invernos,
...para saciar a tua fome.

Não...não tenho direitos!
Pois quando choravas, lá estava eu,
...embalando o teu berço, acariciando a tua fronte,
Cantando as canções quem nem mesmo, eu sabia.

E nos teus primeiros passos?
- quando cambalhantes, caias...e choravas,
e de olhos marejados pedia-me aconchego.
Lembro-me de tudo:
As febres que queimavam mais à mim do que a ti...
As gripes que te sufocavam o peito...
As sopinhas de feijão esmagado...
As pastas de angu e leite.

Aquela mulher Mãe (frágil como tantas),
Virava Anitas, feras cuidando a cria...
Quantas vezes peleei com a vida?
Quantas vezes chorei de dor?
Quantas vezes velei o teu sono?
Quantas vezes te dei amor?

Sim... eu não tenho que me meter na tua vida!

Quando fostes para a escola pela primeira vez,
...lá estava eu atrás da porta, espiando-te,
(escondida esperando tu ficares bem).
Quando chegavas em casa, o lanche pronto,
A água quente para o teu banho,
A roupa limpinha para o teu afago,
A comida prontinha para a tua fome.

Quantas vezes fiquei sem comer, para te dar!
Quantas vezes eu chorei, sem ter o que te dar!
Quantas vezes eu pedi, eu clamei, eu consegui,
eu lutei, eu gritei sem ninguém ouvir...sem ninguém ver!
- Sem tu me pedires e dei-te o que precisavas!
O que tu querias, o que tu sonhavas!

E eu, mulher, vivendo minha vida para ti,
Chorando nas tuas ausências momentâneas,
Acordada, esperando o rangir da porta, na tua chegada,
Levantando nas madrugadas para te levar mais cobertas,
Brigando para te ver sorrindo...
Lutando para te dar dias melhores.

Não...eu não tenho o direito de meter-me em tua vida!
Porque eu errei...
Errei em amar, em sonhar,
Em enfrentar o mundo para ter o meu filho,
Fruto de um amor irresponsável, para muitos,
Mas verdadeiro para o meu coração.
                                                                      
Errei em acreditar que a vida é tudo,
E que vale à pena ser Mãe, ser mulher,
Ser a fonte natural que ilumina...
Que dá vida, que ensina, que afaga, que amamenta,
E que colhe na felicidade de ter um filho!

Tu crescestes como todos crescem...
E o menino frágil, de sorriso delicado,
De palavras doces, de olhar terno...
Aprendeu, longe de mim, a rebeldia do mundo.
A falsidade que impera com a mentira,
A revolta dos adolescentes mimados,
Que dão valores, a valores inúteis,
A conselhos fartos de palavras tolas.

Hoje não tenho mais o meu menino,
Não tive o amigo, o companheiro,
O abraço forte, o beijo lambusado.
Perdi... Perdi por amar de mais...
E esquecer de que há um mundo,
Tão imundo, tão sujo, tão nojento,
Tão fétido e tão escroto...
Que nos tira, tudo o que temos...
E não nos dá a chance de ser feliz.

Ontem meu filho disse pela última vez:
“Não te mete na minha vida!”
E não me meti.
Hoje, meu coração chora...

Chora por que com ele enterrei uma parte de mim!

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