quinta-feira, 3 de agosto de 2017

O Que a História Não Me Contou

Busquei nas folhas do tempo.
O que a história não me contou...
O que a vida sempre me negou,
Fatos que hoje eu lamento,
Que são dores, ressentimentos,
Fardos pesados, que eu trago...
Quando ao silêncio, indago,
Vendo tanto ódio e maldade,
Que chega a ser crueldade...
Dos que se adonaram do pago.

Descobri que esta gente...
Só conta um lado da história,
Só contam os feitos de glória,
De um passado inconseqüente,
Que matou tantos inocentes...
Em barbáries, carnificinas,
Onde a ganância malina...
Manchava a baldes de sangue,
Os campos deste Rio Grande,
Da Velha Pátria Sulina.

Rebusquei n’algum retrato,
Que o tempo, já amarelou,
E descobri que quem lutou.
Não teve história, nem fato,
Eram índios, negros e mulatos,
Vivendo à beira da fome...
Que forçados por esses homens,
Com estrelatos de Coronéis...
Estampavam o ouro dos anéis,
E o peso de um sobrenome.

Que de dentro dos gabinetes,
Ou das estâncias de luxo...
Se fingiam de ser gaúcho,
Entre cupinchos e mandaletes,
Que iam reculutando ginetes...
Peões, escravos e lavradores,
Que se dobravam aos senhores,
Com promessa de liberdade...
Numa mentira de igualdade,
                                                                       De quem nunca conheceu valores.
  
Assim ergueram bandeiras,
Com suas pilchas de trapos,
Trastes humanos, farrapos...
Resenhando fronteiras,
Onde a adaga cortadeira,
Ditava a regra da vez...
Sangrados mesmo que rês,
Na crueldade das degolas,
Vendiam a vida, por esmola,
Sem entender o que fez.

Morreram pelas coxilhas...
Qual um matungo sem dono,
Atirados ao triste abandono,
Como se não tivessem família,
Sustentando a saga caudilha,
Peleando de sul a norte...
Só se entregavam pra morte,
E a morte não tem pena,
E infelizmente, só condena,
Os que nasceram sem sorte.

E a sorte que eu me refiro,
É a simplicidade de um berço,
Não sei se, hoje, eu mereço,
Ter a Pátria que admiro...
Se o mesmo ar que respiro,
Faltou há tantos dos meus...
Que a história, podre, esqueceu,
Para contar suas bravatas...
Desses caudilhos de gravata,
Que se acham maiores que Deus!

Sei que serei condenado...
Pelo meu modo de pensar,
Dos que só sabem condenar,
Sem conhecer o passado...
Tudo o que têm, foi herdado,
Passados de Pai pra filho...
Talvez, por eu ser andarilho,
Que a vida fez-me conhecer,
O que a história tentou esconder,
Dos que chamamos de caudilho.

Pois o caudilhismo foi atraso,
Foi morte e foi crueldade...
E os que pelearam de verdade,
São os esquecidos do acaso,
Sem aurora e sem ocaso...
Num tempo sem liberdade,
Num mundo sem igualdade,
Vagando diante as cancelas...
Ou pelos barracos das favelas,
Nos arredores das cidades.

Se, hoje, alguém reclama...
Por um pedaço de terra,
Talvez sejam os netos da guerra,
Que Pátria nunca proclama,
Onde a ganância faz cama,
Atrás de grandes muralhas,
De quem faz curso de canalha,
E se vende por dinheiro...
Dando tudo pra’o estrangeiro,

E ao nosso povo, só migalha.

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