quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Nos olhos dos iguais!

 

Não...não entendo num tempo novo,
No meio de tanto progresso...
Alguns ainda vivam o retrocesso,
Banalizando a dor das feridas...
De um Povo que perdeu a vida,
Que morreu para tantos viver...
Massacrados nas injurias do poder,
De ser uma raça menosprezada...
Morrendo pelos fios das calçadas,
Diante dos olhos que não querem ver.

Povo humilde... Povo pobre...
Que ergueu essa pátria nas guerras,
Que fez e se refez sobre esta terra...
Que nem era sua e, ainda não é...
Mas sem nunca perder a fé...
Crentes de Oxós e dos Orixás...
Só querem seu tempo de paz,
Paz de um tempo sem dor...
Onde olhos enxerguem uma só cor,
A cor do mundo dos iguais.

Talvez tu nunca entendas...
Por nunca ter sentido essa dor,
Por nunca ter sentido o calor...
... das chibatas e das correntes,
A dor que sangrava na gente,
A dor que sufocavam as falas...
Cortados pelo aço das balas...
Dor de ser escravo, de ser negro,
Dor que se consumia, nos medos,
Da morte que rondava a senzala. 

O que tu entendes de escravidão...
...se tu nunca sentiu essas dores?
...se teu mundo é de luzes e cores...
Enquanto ao meu é negro de escuridão,
Mundo de dor e de resignação...
Ter que vencer nesta vida, sozinho,
Sem paz, sem sonhos, sem carinho,
Vivendo ali, à beira da fome...
Comendo os restos que outros comem,
Na injuria brutal das correntes...
Como tantos infelizes, da minha gente,
Escravos sem vidas e sem nomes!

Fui aprisionado a um triste destino,
Só por ter a minha cor diferente,
Como se negro, não fosse gente,
Como se a pele não tivesse valor,
Só por não sermos da mesma cor,
Carrego as chagas de brutas maneias,
Mas tenho um sangue a pulsar nas veias,
Que é tão vermelho quanto o ao teu, senhor!

Não...não queiram sentir a dor...
...dor do preconceito e da ingratidão,
De um negro que ergueu essa nação,
Pegou em armas e defendeu esta terra,
Só querendo a liberdade do pós guerra,
Promessa quem nunca foi cumprida...
Pelos matos foram perdendo a vida,
Pelas cidade foram subindo morros,
Sem ouvirem seus gritos de socorro,
Pelos guetos ou favelas escondidas!

Hoje é fácil bradar contra um povo...
Quem a vida toda viveu na exclusão,
Sem direitos a um pedaço de chão...
Enquanto tantos ganharam de graça,
Com seus bustos expostos nas praças,
Como heróis de um povo sem memória,
Que só dá, aos comandantes, a gloria...
Que só ergue bandeira aos fortes...
Esquecendo que nas fileiras da morte,
Foram os negros que fizeram essa história!

Um dia talvez, tudo acabe...
Um dia talvez tudo termine,
E quem sabe ao filho tu ensine,
Que somos filhos do mesmo Deus,
E que eu possa olhar para o meus...
Na liberdade que tanto buscamos,
Nas pessoas que tanto amamos...
Que se perderam ao mundo sem sorte,
Ou que chorando buscaram a morte...
Pedindo à vida, um rito final...
Se livrando de todo o mal...
Da injuria triste dos preconceitos,
Que tiraram dos negros o direito,
De apenas querer, ser igual!


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