terça-feira, 30 de maio de 2023

UMA FLOR SORRIU PRA MIM!

Um dia uma flor sorriu pra mim!
Flor linda, exalando um perfume doce,
Iluminada pelo sol da tarde…
Esnobando a beleza ancestral,
na lucidez das palavras de amor!

A meiguice da pele enegrecida,
Contrastando o brancor dos cabelos…
alvejados por raios luminosos e
salpicados de gotas orvalhadas de amor…
(não um amor comum…
não um amor banal…)
mas um amor angelical que ultrapassa o tempo
e se solidifica na doçura das palavras.

Um dia uma flor sorriu pra mim!
Margarida...
Margarida de muitas vidas!
Margarida que me apresentou, Deus!
E aprendi com cada letra, cada palavra, cada canto…
O real sentido da minha vida…
O sentido das chegadas e partidas,
O sentido de adeus sem despedida,
E o por quê da doçura, das Margaridas!

O tempo passa, num sopro de vento,
e teima em enrugar a minha face,
a encurtar os meus passos,
a esbranquiçar os meus cabelos…
e ela, a Margarida, que talvez um dia
será santificada nos corações bondosos...
permanece a mesma,
enfeitando a vida,
num passo curto,
balbuciando palavras para nos encher de luz.

Benditas sejas, na vida!
Doce flor, Margarida…
E nas orações que balbucia no silêncio do entardecer,
coloque à mim, esse filho pecador,
que esperou uma eternidade para apenas agradecer,
mesmo na solidão dos meus verbos,
por um dia ter-me apresentado Deus,
pois Ele permanece comigo, puxando-me a orelha,
por não ter tido um tempo de dizer:

Obrigado
por um dia ter sorrido pra mim!

POEMA QUE ESCREVI PARA A PROFESSORA MARGARIDA, QUE ME ENSINOU A ENCONTRAR A DEUS, NAS SUAS AULAS DE RELIGIÃO!

Obrigado Por tudo, Flor Margarida! 

Inventário!

Sei que estou de partida,
Meu tempo chegou ao fim,
E por certo vivi assim...
Entre chegadas e saídas,
Tecendo os retalhos da vida,
Com as linhas que convém,
Chuleando a coisas do bem,
Com a forma pretendida!

Semeei caminhos errantes,
Pelos trilhos da bondade...
Pra quem sabe ser saudade,
Em algum coração amante,
Que nesta sina de andante,
Sem ter pousada certa...
Deixei alguma porta aberta,
Em algum rancho distante!

Está na hora de me ir...
Pr’alguma estância no céu,
Trançar algum sovéu...
Na busca de algum sorrir,
De quem sabe que partir,
É a sina dos andejos...
Que guarda seus desejos,
Para adoçar o porvir!

Não deixo nada de herança,
Por não me apegar à matéria,
Mas não vivi na miséria...
Tenho abraços de lembrança,
E o sorriso das crianças...
Que me olhavam com gosto,
Vergando as rugas do rosto,
No perfume d’alguma trança.

Alguma camisa já puída,
Desta lida campesina...
Entregue à alguma china,
Que esteja ressentida...
Que me guardou nesta vida,
Num romance amanhecido,
Pra que não seja esquecido,
Nalguma lágrima escondida!

O velho par de rossilhonas...
As nazarenas cantandeiras,
A velha capa campeira...
A guitarra e a cordiona,
Avios de mate, a cambona,
E algum traste galponeiro...
Entregue a algum campeiro,
Ou alguma china chorona!

Me enterrem junto ao campo,
Bem no alto da coxilha...
Lá onde pasta a tropilha,
Sobre o verde deste manto,
E rezem a todos os santos,
Pra quem me arrumem morada,
Onde tenha égua aporreada,
Que nessas eu me garanto!

E se um dia nascer de novo,
- “Tomara que Deus queira”
Que seja aqui na fronteira...
Quem sabe, o mesmo povo,
Só de pensar me comovo...
Ver nos olhos dessa gente,
- Eu, um piazito inocente...
Vivendo tudo de novo!

Enquanto isso não acontece,
Vou me despedindo do mundo,
Num sentimento profundo...
Em forma de canto e prece,
Alguma boca emudece...
Entre lágrimas e pranto...
Deixo em formas de canto,
Para aquele que merece!

É apenas um inventário,
Do pouco que me resta,
Quem veio à vida, pra festa,
No velho torrão caudatário...
Fica uma cruz e um rosário,
Uma simples, circunscrição,
- “Aqui jaz o corpo pagão”...
Quem foi na vida, templário!

A última taça de vinho!

O silêncio é um tirano que grita nas madrugadas,
Vem da adaga empunhada dando pontaços da solidão,
Senhor da escuridão, enche meus olhos d'água…
Vêm provocando a mágoa que acampou num coração!

O vento geme lá fora, vestindo a pele dos lobos…
Brincando neste jogo, que quem não joga é covarde,
Pra muitos parece tarde, pra vida é só um recomeço,
O que muda é o endereço, mas o resto é só saudade!

Porque tu gritas comigo, provocando os meus medos?
Porque escondes segredos, se o segredos não calam?
Porque eu ouço estas falas que pela noite se solta…
Não há ninguém na volta, somente um cuco na sala!

Há um badalo de sino blimblinando nos pensamentos…
E a chuva traz lamentos em gotas de olhos vazios,
Todo mundo já dormiu (ou quase todos que queira),
Somente um grilo porqueira, que ainda tilinta de frio!

E vai jogando a sua ira numa Rebeca desafinada,
Com cordas mal espichadas e seu mau jeito de tocador…
Quem sabe sofras de amor, fugindo dos pensamentos…
Com esse toque nojento, somente pra espantar a dor!

Me diz aí, senhor silêncio, porque tu gritas comigo?
Talvez só esteja contigo, por conta daquela cena…
Em que minh'alma pequena, se encantou por quem não devia,
E, hoje, sofre, vazia, nos rabiscados de uma pena!

A noite bebe a angústia, que a madrugada lhe serve…
Que o tempo me reserve, por certo o que mereço,
Pois tudo tem um recomeço e recomeçar é preciso…
Meu mundo é meu paraíso e o resto é apenas adereço!

Apagou-se o fogo e as brasas, por me ver aqui sozinho…
E mais uma garrafa de vinho, tilinta numa gota rasa…
Só este silêncio faz casa, em cada palavra escrita…
Pois quando a alma medita, a poesia ganha asas!

Deixo uma parte de mim, bailando por entre linhas,
Dançando uma valsa, sozinha, cada letra com seu par…
Quem sabe quando acordar desse maléfico pesadelo…
Silêncio, eu posso tê-lo, sem contigo, me estranhar!

Por isso deixa-me dormir, que amanhã é outro domingo,
Não quero mais os respingos, de insônias e nostalgias…
Leva embora essa agonia, esses pensamentos gritantes,
Esse corpo cambaleante, com a última taça, vazia!


Hibernando!

Tem um louco que adormece em mim!
Finge-se de bom...
Aquieta-se...
Hiberna...
Mas um dia renasce e agiganta-se.
Louco, na sua fase terminal:
Grita...
Sussurra...
Resmunga...
Com força de mil corredeiras,
Extravasa a sua ira em mil poemas.

Mastiga versos ao vento,
Na voracidade de vozes silenciosas.
Que, ranzinzas, ecoam no vazio de mim!

Quando arrebanho letras e frases,
Juntando uma a uma...
Qual as folhas secas, de um outono febril,
Que dançam ao som de ventos cantores,
Ventania de saudades...
Molhada pela brisa funeral de uma noite pálida.

Assim sou eu!
Um louco, alucinado, degustando versos...
Mordiscando palavras...
Mastigando anseios.
Fogo incandescente de brasas rubras...
A incendiar um peito de pele gelada,
De pálpebras molhadas...
De mãos amassadas!
 
Por outras vezes, sou diferente!
Tão comum como qualquer um...
Que sofre de amor na dor latente,
Que é flor e semente de um araticum!

Jeito e trejeito de jeitoso efeito...
Lâmina cortante qual língua de viúva,
Pesados pesares a prender-me o peito,
Pleonasmo perfeito, pr’um tapa de luva!
Louco e loucura!
Pressa e calmaria!
Há um pouco de tudo quando o olhar deságua,
Na fome incontida que me vem, poesia,
É lâmina fria a cortar-me, há magoas!
 
Hiberno no tempo para acordar depois,
Com versos confusos a confundir-me a mente,
Palavras incertas a profetizar verdades...
De falsos profetas que são convincentes.
 
Tem um louco que adormece em mim!
Finge-se de bom...
Aquieta-se...
Hiberna...
Mas um dia renasce e agiganta-se,
E implora à poesia, uma prece eterna,
Fingindo apenas, na dor dos poetas...
Penúria confessa de encontrar um fim,
...ou apenas ressabio de um louco,
que vive em mim!