quinta-feira, 23 de novembro de 2017

As dores do Mundo!

“Choro as dores do mundo...
...por que o mundo chora de dor!”
...por que o mundo esqueceu o valor,
da igualdade e da compaixão...
Por que os homens perderam a razão,
criando armas e bombas nucleares...
e esqueceram que são nos lares,
...que se começa, o amor e o perdão!

Choro as dores do mundo...
...desse mundo sem direitos,
...mundo de dor e de preconceitos,
que sobrevive na arrogância...
dos que se agigantam na ganância,
de um poder de corrompíveis...
que vagam em todos os níveis,
nas mazelas da ignorância!

Mundo de gente insana...
...lavrando as atas da fé!
Mundo que execrou José...
(Àquele mesmo, o Carpinteiro),
que escolheu ser verdadeiro...
cedendo o ventre da amada,
Para ter uma Vida glorificada,
longe de seu exílio povoeiro.

Mundo de bárbaros e chacais,
que vivem a esbórnia do poder,
onde reinam sem conhecer...
sob o olhar dos profanos,
que sustentam seus enganos,
pelos engodos da sorte...
e vão dissipando a morte,
no jubilo dos desumanos!

Choro as dores do mundo,
sob o manto da desgraça...
de tantos bustos, nas praças,
erguidos à força dos nobres...
Heróis financiados a cobres...
trocados à tropas e estâncias,
são sombras da intolerância,
sombreando as dores dos pobres.

Choro as dores do mundo...
...e dos índios sacrificados...
que por anos foram usados,
ao bel prazer de uma Igreja,
a onde a soberba rasteja...
em seus castelos dourados,
com púlpitos de ouro, roubados,
...rateando a fé em bandejas!

O mundo chora de dor...
...a dor de Mães sem filhos,
...a dor de incrédulos andarilhos,
que vagam por noites mortas,
tantando encontrar a porta...
(que dizem ser do futuro)
cegos de Deus, no escuro,
que a alma nunca conforta!

Choro lágrimas incontidas,
...por que ainda havia esperança,
mas vejo a longa distância...
que separam os seres iguais,
Num mundo de irracionais...
...de saqueadores da Nação,
pouco resta para o perdão...
e não chorar nunca mais!

Mas sei que isso é utopia,
nesse mundo de desengano,
talvez encontre noutro plano,
em algum ser superior...
que ensinem o que é o amor,
esse sentimento profundo...
... choro as dores do mundo,
Por que o mundo chora de dor!

Julgar!

O que as pessoas não entendem,
é que a verdade não se vende...
...nas mazelas da sociedade,
E a arte que nos ensina...
...não vive pelas esquinas,
com os olhos da falsidade!

Nem tem uma justiça cega,
de tantos, que ainda pregam,
...a injúria dos preconceitos,
Que buscam, em torpes palavras,
...a infâmia que é escrava...
dos que só buscam defeitos!

A arte que tantos julgam...
...e a um ato final promulgam,
com a sua gana de vaidade,
É um punhal de fino corte...
...que vai talhando na morte,
um sonho de liberdade!

A liberdade em que a poesia,
...se liberta da tirania...
E dos conceitos reais,
De técnicas, de normas e de atos,
...de quem escraviza, o fato...
De apenas serem normais!

Julgar, ao julgo da sorte...
...talvez seja punhal de corte,
na língua do poder...
De quem a mente escraviza,
...e não conhece a divisa,
entre o ser e o não ser!

Julgar a arte de alguém...
ao modo que lhe convém,
com olhos de escravidão,
Talvez, embora, não deseja...
Quais as víboras que rastejam,
...que só lhes restam, o chão!

Por isso eu me abstenho,
por que o mundo que venho,
a arte é sempre uma arte...
e além de tantos, confesso,
só a verdade, me interesso,
...pois ela, de mim faz parte!

Então, não julguem valores,
...não julguem pelas suas dores,
...ou porque a vida lhe condena,
Quando se abstém da vaidade,
A vida lhe traz verdades...
...de ser livre, por uma pena!

Funeral em Campo aberto!

O dia amanheceu cinzento, por sinal!
Com cara de sono nos olhos da madrugada,
E uma cantiga de dor pelo aço das esporas,
E rangidos tristes pelo sonar dos bastos.

O dia amanheceu cinzento, por sinal!
Os cuscos não brincaram ao redor da encilha...
E um berro de touro quebrou o silêncio das horas,
Com o vento minuano, gemendo, num canto funeral.

Desde as horas do mate, que um pensamento de vinha,
Lembrei dos olhos da prenda, do sorriso de sanga...
...da maciez de suas mãos me alcançando o mate,
E do corpo quente no catre, pelo abraço que tinha.

Guardei no ouvido, como melodia de guitarra,
O sussurrar de sua voz em acalanto e nostalgia,
E retruquei a rebeldia num ultimo gole de mate.
Encostei cuia e cambona no baldrame cascurrento,
mas com o mesmo sentimento, me apertando o coração,
e fui buscar a liberdade, lá onde a dor e a saudade,
não dão tempo para a solidão!

O dia amanheceu cinzento, por sinal!
Alcei a perna no mouro, como eu sempre fazia,
quebrando a geada fria a ponta de cascos,
e me largava campo afora, ouvindo o cricritar da espora,
em rondas e recorridas...
Um pouco, para esquecer a vida...
...que às vezes se faz de ingrata e a um peito maltrata,
só para mostrar o seu valor!

Costeei um capão de mato, depois uma picada,
...um coxilhão, uma sanga de pedras mouras...
...um descampado de vassoura e logo mais o lagoão.
Um lote de vacas pampas pastando no serrilhado,
outro lote de bois colorados, ali na outra invernada,
e bem no meio à estrada que leva até ao pontão.

Meu peito trazia angústias pelo silêncio das horas,
Nem a cantiga da “coscoja” era acalanto pra alma,
Nem o acôo dos cuscos no voo de uma perdiz...
...nada parecia quebrar aquele quietude e a calma.

Mas a vida traz escrita o que jamais se espera,
Frases que não são ditas e nem se lê...
E a calma vira angústia, vira lamento e vira dor...
...e o tempo jamais explica o que está para acontecer.

Um zebu aspa de lua costeia à cerca da divisa,
Tenteando fazer costado as vacas pampa da invernada,
E outro Pampa valente retrucando a sua bravura...
Cuidando a rebeldia sem se importar com mais nada.

Olhei a cena ao longito: o zebu tenteando a esgrima,
...como se trama e palanque não tivessem serventia,
E o pampa escarvando terra, mostrava as armas de guerra,
...como se campo e serra, fossem a razão do que se via.

Meti a espora no mouro como quem chama pra lida,
E aticei dois coleira indo de encontro com o touro,
Mas o zebu na sua ânsia de ser o dono do rodeio,
Não se importou com o reio nem a presença do mouro.

Berrando como patrono de um trono que não é seu,
Se botou na cachorrada pegando no mesmo embalo...
E veio de encontro ao mouro com suas aspas de lua,
Ponteando como duas puas, nas paletas do meu cavalo.

Foi um estrondo e um berro, acordando a tarde vazia,
E o sangue que escorria pelas aspas do touro...
A cachorrada garroneando e um maula ali acoçado,
Vendo o um taura estirado sobre o corpo do mouro.

O touro ganhou o mato a grito e dente de cusco,
E eu fiquei com o susto, mas com a vida por certo,
...como balaço no peito, ardendo à sina dos malos,
Ter que sangrar um cavalo, num funeral em campo aberto!

Por de trás do véu de Iris!


Muitas perguntas são feitas,
Muitas respostas são dadas,
Muitas palavras guardadas,
Deste o plantio à colheita...
Há uma passagem estreita,
Onde um fio de consciência,
Paira diante da existência...
...do natural ao incomum...
Fazendo com que cada um,
...tenha sua própria vivência!

Não é apenas a mitologia,
Com seu fadário telurismo,
Nem frases de um catecismo,
Que sustentam nossos dias...
Mas são jugos da sabedoria,
Que cada um se conforte...
Quando se rompe no corte,
o que nos prende a matéria,
um corpo se faz miséria...
findando a carne, na morte!

Mas nem por isso termina,
O que lhe foi emprestada...
Se o corpo volta pra o nada,
A vida prossegue e ensina...
Abre-se uma nova cortina,
Tantos sonhos para viver...
Um novo tempo à aprender,
Um caminhar entre as flores...
Longe do tempo das dores,
Que o mundo faz padecer!

Cada um tem o seu destino,
Escolhido a seu bel prazer...
um dia, tu pudestes escolher,
Entre ser chão ou peregrino,
Se queres ser grosso ou fino,
Em qual o lugar queres viver...
Escolhestes onde querias nascer,
Suas circunstâncias de vida...
Até a forma de ser parida,
E a Mãe que o iria conceder.

Ninguém está aqui por acaso,
Nem parte antes da hora...
Ninguém pede para ir embora,
Sem finalizar o seu caso...
Pois todos tem o seu prazo,
Já escolhido antes de vir...
E até a forma que queres partir,
Dependendo da sua existência,
E o que carregas na consciência,
Pelas marcas de um existir.

E a Iris nunca entendeu...
O por que de cada partida,
Nem os seguimentos da vida,
Que ela mesmo escolheu...
Quando o seu corpo morreu,
Vendo a matéria em pedaços,
Apertado em tão tenro espaço,
Das paredes de um caixão...
Aos Deuses pediu perdão...
Sentindo a força de um laço.

Deusa do céu e do mar,
Mãe de vida e do amor...
Um arco-íris de esplendor,
Que a tantos vem encantar,
Quando guardou no olhar...
Por detrás daquele véu,
A grandeza do mesmo céu,
Onde estaremos um dia...
Adocicada de amor e magia,
Com vida em gotas de mel.

Aprendi muito contigo...
Em cada palavra escrita,
Que a vida é mais bonita,
Num mundo sem perigo,
Lá onde vivem os amigos,
Que nos transmitem a luz,
Sem ter que carregar a cruz,
Tão pesada da existência,
Onde adormecem consciências,
No amor de Cristo, Jesus!

Quinze dias de escuridão!

Cai num sono profundo,
Beirando a morte fatal...
E fui descobrindo outro mundo,
Talvez um mundo irreal...
Vi a cura pras minha chagas,
E tudo aquilo que fazia mal,
E no desespero da morte...
Por certo que eu tive a sorte,
De ver um eu, outro igual!

Andei por casas antigas...
Por alamedas e campos floridos,
Aqueci-me em mãos amigas,
Talvez por eu ser o escolhido...
Deixei meu canto ao vento...
E por muito pude ser ouvido,
E na simplicidade de um canto,
Estive entre a alegria e o pranto...
E tantos sonhos divididos.

Um véu de nuvens brancas,
Se abriram como algodão...
Ouvi as vozes das Santas...
Com seus cantos em oração,
Peguei mendigos nos braços,
E vi sangrando suas mãos...
Senti o fel na minha boca,
E os gritos de gente loucas...
Na clausura da escuridão!

Me abstive das promessas,
Que muitos fazem pra cura,
Do mundo que vive com pressa,
Das ruas e suas loucuras...
De bocas famintas de pão,
E Profetas de falsas juras...
Que massificam as palavras,
Atordoando mentes escravas,
Na distorção das escrituras.

Foram quinze dias insanos,
De paz, de amor e calmaria,
Mas pareceram quinze anos,
Sobre o vazio de uma cama fria,
Onde um corpo entre agulhas,
Ia penando os seus dias...
Findando aos olhos de tantos,
Que clamavam pelos cantos...
Sem entender o que eu sentia.

E a morte esteve por perto...
Rondando com a sua frieza,
Também não sabia ao certo,
Também não tinha certeza,
E ela por louca imaginava...
Meu corpo frio sobre a mesa,
Mas esqueceu que mi’alma,
Por ser linda, serena e calma...
Também tinha as suas defesas.

E um corpo ali estirado...
E a morte com olhos abertos,
A minha alma lá do outro lado,
E Deus me rondando por certo,
Encontrando outras verdades...
E planos a serem descobertos,
Cercado de seres iluminados,
Na brandura de anjos alados,
Com o meu espirito liberto..

Não foram sonhos em vão...
Não foram apenas momentos,
Foram quinze dias de escuridão,
Pra muitos de dor e sofrimento,
Mas eu estava em outro plano...
Sentindo a paz e o alento...
Nos braços de tantos amigos,
Que sempre estiveram comigo,
No plenário dos pensamentos.

Passei no umbral das dores...
Ouvi gritos e renegação...
Vozes de ódio e rancores,
Na penúria de um alçapão,
Presos na própria vaidade...
Com sangue vivo nas mãos,
Acordei pra vida e para o bem,
E entendi o amor que se tem,
Em quinze dias de escuridão!