quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Quando o Pai foi embora!

Eu era muito pequeno,
Mas me lembro bem...
Quando o Pai foi embora;
Era uma manhã fria...
A geada branqueava os campos,
E o vento gemia entre as paredes...
Fumaceadas de um galpão.
O sol não veio naquele dia...
- Mas vieram muitas pessoas!

O velho cusquinho coleira...
Que todos as manhãs se enrolava,
Entre as botas do meu Pai,
Choramingava no silêncio do galpão;
O zaino velho da encilha,
Costeava as cercas do potreiro,
Talvez sentindo a falta dos bastos,
Talvez sentindo a ausência do amigo...

Meu Pai deitado sobre uma mesa,
Bem ali na sala da frente...
(Com a sua roupa mais bonita);
Vi as mulheres chorando...
Vi minha Mãe chorando,
E as pessoas que chegavam,
Todas iam ver o meu Pai.

Na minha inocência de criança,
Não sabia o porquê!
Lembro quando a Mãe me disse:
Que o Papai foi embora,
Pois, agora ele era uma estrela,
Que brilhava, lá no céu...
Ele fora fazer uma casa nova,
E que um dia viria nos buscar!

Aquele dia foi muito triste!
Veio muita gente ver meu Pai...
Depois todo mundo foi embora,
E nós ficamos lá sozinhos;
Muitas vezes, vi Mamãe chorando,
Muitas vezes, vi Mamãe rezando,
E me ensinou em suas preces,
Falar com o meu Pai.

Contou-me várias estórias:
- das pessoas que viram anjos;
- como nascem as estrelas;
- e que há um céu muito lindo,
com muitas flores...e pássaros,
(onde um dia iremos nos encontrar,
para seguirmos juntos a mesma vida).

Eu tinha muita saudade de meu Pai!
Mas não queria chorar...
...para não ver a minha Mãe triste;

Uma noite, quando eu dormi...
Meu Pai veio me visitar;
Tinha uma roupa muito branca,
Um sorriso largo...
Uma luz brilhante...
...levou-me pela mão por campos lindos,
sangas, rios, flores, pássaros...
(tudo que minha Mãe tinha me contado).

Tinha um cavalo, igual ao zaino velho,
e cusquinho coleira e brincalhão,
que nem o que nós tínhamos aqui;
Sentamos numas pedras grandes,
- lá na costa de uma sanga...
e ele me contou coisas que nunca
tinha falado antes.

Me deu beijos e abraços...
- por que antes Papai não abraçava!
Caminhamos por longas estradas...
Conversamos como dois amigos,
...e eu ouvia atentamente seus conselhos,
Coisas que meu Pai nunca tivera tempo de fazer.

Mostrou-me o lugar onde morava
...e muitas pessoas que ali estavam!
Depois, de algum tempo...
ele me deu um beijo...
e se foi, caminhando tão longe,
deixando-me ali chorando,
chamando por meu Pai...

Então acordei!
...e com os olhos encharcados de lágrimas...
sufocado no meu berço de criança;

Nunca falei isso para ninguém!
Daquele noite em diante,
muitas vezes encontrei o meu Pai;
- Sempre o mesmo sorriso...
e as palavras doces que,
me soavam como conselhos;
Os braços abertos num afago de amigo;
A mão, sem calos... e aquela luz
Iluminando os meus passos.

Nunca mais fui para baixo da mesa,
chamar por ele...
(como eu fazia nos momentos de solidão);
ou nas vezes em que ele tropeava,
(ficando dias longe da gente);
Nunca mais reclamei da sua ausência,
Pois entendi que há um mundo maior...
...e que uma vida não acaba,
quando o Pai vai embora.

Pois até hoje, pelo vento,
escuto o seu assobio, me mostrando,
que ainda está junto de mim,
caminhando do meu lado...
(como nos meus sonhos),
e iluminando os meus dias,
com aquela luz tão branca,
tão alva... que só os anjos podem ter.

Cresci como crescem os meninos,
tentando seguir os passos de seu Pai!
Muita gente não compreendeu...
quando ensinei outro cusquinho coleira,
a se enrolar nos meu pés...
...e soltei o zaino velho para
morrer num fundo de campo.

Nunca mais eu perguntei:
- Porque um Pai vai embora?
Desde o dia em que compreendi,
que os Pais são anjos...
Anjos que Deus coloca ao nosso lado,
para nos guiar pelas estradas da vida,
sempre na busca do bem!
Sempre no caminho mais leve,
e que nos sustenta nas hora da dor.

Compreendi também,
que um Pai não morre...
...apenas parte pra um mundo novo,
porque aqui onde vivemos,
a vida não dá tempo,
para um carinho de Pai e Filho!

Quando me tornei Mãe!

A vida é sopro divino na boca dos sentimentos,
É luz de vela que apaga ao primeiro beijo do vento,
São carícias matutinas no âmago de cada ser...
Que descobre com o tempo, o quanto dói um perder!

Quando me tornei Mãe, foi assim!
Embalei nos braços, os sonhos que não eram só meus,
...amamentei no peito, que não tinha, a fome de uma boca faminta,
embalando os sonos mais profundo, sem me importar com o mundo,
vestindo de caricias as bochechas rosadas, com roupas e talcos...
afogando as palavras em linguagens sutis, que me acostumei,
pois eu me tornava a vida, na vida do amor que ganhei.

Sonhamos juntos, tantos sonhos, sonhados!
Tantos beijos roubados no afagar das retinas,
Imagens constantes de desenhos coloridos,
rebuscando palavras para adocicar as bocas,
de um amor crescente que se tornaria eterno,
tartamudeando caricias para enfeitar os dias...
na espera incontida de primaveras floridas...
alimentado num ventre, quarto de lua, crescente,
que mais parecia ser cheia.

Redescobri madrugadas para rondar o teu sono...
Tive ânsias e enjoos para não deixá-la sozinha,
Comi coisas estranhas para matar os desejos,
E sentia dentro de mim a vida que não era minha!

Dobrei os panos do tempo enxovalhados de amor,
pus talcos e mamadeiras...chupetas e pingentes...
e uma tiara de lua minguante para prender os cabelos,
esperando por aquele choro para ser vida na gente!

E veio o meu sorriso... a felicidade de todos nós...
mas as lâminas do destino são como felpas, na dor,
e a vida que brotava aos prantos sem saber porque vinha,
levava outra, sem pena, de nos deixar sem amor!

O sengue no lençol, a dor sem nem um choro...
As batidas sem compasso, sem saber porque paravam,
Enquanto olhos se espantavam, buscando qual a razão,
Ia calando um coração, deixando tantos que a amavam!
  
Quando me tornei Mãe, foi assim!
Descobri que em cada gesto que não fiz...
...em cada palavra não foi dita,
...em cada amor que calei,
...em cada beijo que não dei,
...em cada abraço que não quis,
são punhaladas que ficam rasgando a carne da gente,
sangrando em olhares perdidos na dor de uma saudade.

Larguei o mundo que tinha!
para me tornar o que não era...
E embalei nesses braços o amor que era nosso,
mesmo sabendo que o tempo, às vezes, se faz de louco,
e fica me enchendo os olhos de uma tristeza incontida...
com a imagem dela refletida, num par de olhos azulados!

Que culpa tem uma vida, se outra vida foi chamada?
Se a gente não escolhe o dia, pra morte se fazer presente?
talvez ao tempo, até entenda, as frases que vêm escritas,
e a sina que carregamos de cuidar o que é da gente!

A vida é sopro divino na boca dos sentimentos,
é luz de vela que apaga ao primeiro beijo do vento,
São carícias matutinas no âmago de cada ser...
que descobre com o tempo o quanto dói um perder!

Quando me tornei Mãe, foi assim!
Não escolhi...fui o escolhido!
Com o coração dividido, de uma chegada e uma partida,
entendi o preço da vida e a cruz que se carrega...
Mas Deus, Te olha e Te entrega,
Sem preguntar se é ao teu gosto,
Depois Te dá forças, Te Dá motivos...
E Sabe que enquanto tu permaneceres vivo,
terás muitos caminho para percorrer...

Enxugando as lágrimas e as tristezas que trago...
em cada sorriso em que teu olhar me revela...
eu tento, aos poucos, suportar essa ausência...
embora sabendo que há um vazio de espera.
E a vida se refaz pelos semblantes de mundo,
nostálgicos pesares em dois olhos sem brilho,
Recompus os caminhos de um Pai verdadeiro...
Quando me tornei Mãe, para ser vida,

na vida do meu filho!

QUANDO LEVARAM UM PEDAÇO DE MIM!

Não...não sei onde errei,
Mas sei que o meu erro levou parte de mim!

Ontem meu filho disse pela última vez:
- “Não te mete na minha vida!”
E eu, com olhos encharcados, calei!
Calei como calam-se todas as Mães,
Chorei como choram, todas as Mães,
E vi meu filho sair como sempre fez!

Uma foto entre um rosário e as flores,
Uma dor cortando um coração...
Lágrimas, lembranças, solidão!
Choro por perder um pedaço de mim,
Por ser fraca, por ser infeliz, por ser Mãe.
(Mãe que não queria ver um filho assim).

Busquei pelos véus da lembrança,
Aquela mulher sonhadora, frágil,
Que viu a vida crescer em seu ventre,
Que ouviu o mundo num pulsar de vida,
Que sentiu a dor de noites mal dormidas,
E a pele rasgando num parto de amor.

Não tenho direito de meter-me em sua vida,
Pois não me meti no teu primeiro choro...
Na sua primeira dor de barriga...
Na primeira noite de insônia, embalando teu sono;
Levantando madrugadas para trocar tuas fraldas,
Levando meu peito no frio dos invernos,
...para saciar a tua fome.

Não...não tenho direitos!
Pois quando choravas, lá estava eu,
...embalando o teu berço, acariciando a tua fronte,
Cantando as canções quem nem mesmo, eu sabia.

E nos teus primeiros passos?
- quando cambalhantes, caias...e choravas,
e de olhos marejados pedia-me aconchego.
Lembro-me de tudo:
As febres que queimavam mais à mim do que a ti...
As gripes que te sufocavam o peito...
As sopinhas de feijão esmagado...
As pastas de angu e leite.

Aquela mulher Mãe (frágil como tantas),
Virava Anitas, feras cuidando a cria...
Quantas vezes peleei com a vida?
Quantas vezes chorei de dor?
Quantas vezes velei o teu sono?
Quantas vezes te dei amor?

Sim... eu não tenho que me meter na tua vida!

Quando fostes para a escola pela primeira vez,
...lá estava eu atrás da porta, espiando-te,
(escondida esperando tu ficares bem).
Quando chegavas em casa, o lanche pronto,
A água quente para o teu banho,
A roupa limpinha para o teu afago,
A comida prontinha para a tua fome.

Quantas vezes fiquei sem comer, para te dar!
Quantas vezes eu chorei, sem ter o que te dar!
Quantas vezes eu pedi, eu clamei, eu consegui,
eu lutei, eu gritei sem ninguém ouvir...sem ninguém ver!
- Sem tu me pedires e dei-te o que precisavas!
O que tu querias, o que tu sonhavas!

E eu, mulher, vivendo minha vida para ti,
Chorando nas tuas ausências momentâneas,
Acordada, esperando o rangir da porta, na tua chegada,
Levantando nas madrugadas para te levar mais cobertas,
Brigando para te ver sorrindo...
Lutando para te dar dias melhores.

Não...eu não tenho o direito de meter-me em tua vida!
Porque eu errei...
Errei em amar, em sonhar,
Em enfrentar o mundo para ter o meu filho,
Fruto de um amor irresponsável, para muitos,
Mas verdadeiro para o meu coração.
                                                                      
Errei em acreditar que a vida é tudo,
E que vale à pena ser Mãe, ser mulher,
Ser a fonte natural que ilumina...
Que dá vida, que ensina, que afaga, que amamenta,
E que colhe na felicidade de ter um filho!

Tu crescestes como todos crescem...
E o menino frágil, de sorriso delicado,
De palavras doces, de olhar terno...
Aprendeu, longe de mim, a rebeldia do mundo.
A falsidade que impera com a mentira,
A revolta dos adolescentes mimados,
Que dão valores, a valores inúteis,
A conselhos fartos de palavras tolas.

Hoje não tenho mais o meu menino,
Não tive o amigo, o companheiro,
O abraço forte, o beijo lambusado.
Perdi... Perdi por amar de mais...
E esquecer de que há um mundo,
Tão imundo, tão sujo, tão nojento,
Tão fétido e tão escroto...
Que nos tira, tudo o que temos...
E não nos dá a chance de ser feliz.

Ontem meu filho disse pela última vez:
“Não te mete na minha vida!”
E não me meti.
Hoje, meu coração chora...

Chora por que com ele enterrei uma parte de mim!

Quando eu morrer!

Quando eu morrer, não chore!
Nem lamente a minha partida,
Lembra-te o que fui nesta vida,
E das coisas boas que eu já fiz...
Pois há um ditado que diz:
“A morte não vem em vão,
Quem deixa amor num coração,
Não morre parte pra viver, feliz”!

Quando eu morrer, não clame!
Nem fale dos momentos ruins,
Por certo não será o meu fim...
...que me fará um sujeito, melhor,
Lembra-te das minhas gotas de suor,
Lutando pra ser melhor cada dia.
Vivendo e dando vida à poesia,
Esqueças o que mundo faz de pior.

Quando eu morrer, sorria!
Com aquele sorriso encantador,
E lembra-te de quem semeou amor,
Pela inquietude dos versos...
Viajando em sonhos dispersos,
Nas folhas brancas de um papel,
Fez o seu mundo, o próprio céu...
Para ser lembrança no universo.

E quando virem as lágrimas...
Deixa que elas saiam...
Deixa que elas caiam...
No silêncio mais profundo,
Recolhido a paz deste mundo,
Eu estarei entre teus braços...
No mais afetuoso abraço,
Desse teu amor fecundo!

Lá onde estarei agora...
Estarão tantos junto comigo,
Os velhos e antigos amigos,
Que um dia já foram embora,
Talvez por ter chegado a hora,
(Se é que há hora, na outra vida),
Deixando lágrimas na partida...
De alguém que ainda chora!

Quando eu morrer, será assim!
Mescla de versos e de cantos,
Gotas de lágrimas e de prantos,
Mas sem grito e sem clamor...
Que cada um tenha a sua dor,
Na mais contrita oração...
Tendo vida na voz de um violão,
E na goela de algum cantador!

Pra que a noite fique pequena,
Quero cordeonas e guitarras,
E que seja uma noite de farra,
Com canha e tragos de vinho,
Pois não quero partir sozinho...
Sem ao menos uma despedida,
De alguma china atrevida...
Que foi feliz com meu carinho.

E na hora de fechar a campa,
Ponham, umas folhas em branco,
E um pasto verde do campo...
Juntos com tuchos de macega,
Quero juncos e pega-pega...
Grudados ao pano da bombacha,
Se a outra vida for buenacha...
Que a morte, logo me entrega.

Quero uma vez por ano...
Que todos lembrem de mim,
Mas não que seja o meu fim,
Pois estarei na eternidade...
Sentado no trono da verdade,
Tomando mate com Deus...
E deixando no peito dos meus,

Apenas a dor de uma saudade!

Prisão!

O que pensam aqueles que prendem?
Que prendem pássaros?
Que prendem animais?
Talvez vivam na sua prisão interior,
Um coração sem liberdade, sem amor!

Pois o amor é a própria liberdade...
E não me digas que tu amas!
Que é mentira!
Quem ama, liberta, viaja junto...
Seguem os horizontes com os olhos,
Cavalga por estradas infindas...
Voa sem ter asas...
Corre sem ter pernas...
Busca um mundo sem tempo,
Sem espaço, sem caminhos!

O que pensam aqueles que prendem?
Que é o dono de tudo?
Que és o mais forte?
Que és o maior e o melhor?
Que pena que penses assim!
Pois te vejo como um fraco, solitário,
Que vês a tua grandeza na inferioridade;
E mente na tua estupidez ingrata...
Que fere, que faz sofrer, que faz chorar!

Amor e liberdade vivem juntos...
São filhos de uma mesma Mãe,
Que os libertos chamam de felicidade!
A por talvez ter o teu mundo, feio,
triste, nojento e sem vida...
Que não dá a liberdade a  um pássaro,
Para ver um outro mundo, bem maior,
bem mais lindo, bem mais feliz,
que só os que estão lá encima podem,
e tem a grandeza de ver.

Talvez por isso, que tu prendes;
Mas pior do que vê-los presos,
É saber que dentro de ti há um ser,
Preso, pobre de vida e de esperança,
E que morre há cada dia, pedindo,
Suplicando por tua ignorância,
Pedindo a liberdade que tu não dá!
Chorando as mínguas do amor.
  
Pois teus olhos não conseguem ver,
A revoar de um pássaro,
cantando livre e feliz...
Não conseguem entender que,
quem ama liberta...
e quem é amado volta sempre,
Por isso os prende, por isso mal trata,
Pois teu amor não é suficiente para ter,
quem o liberta, de volta.

E sabes porque?
Porque tu és fraco, tu és infeliz,
E consegue fazer os que te rodeiam,
mais tristes, mais infeliz...
Na desculpa que prendes por amor.

Pobres  incrédulos tolos...
Ainda se ajoelham clamando a Deus,
Para ter a felicidade que tiram,
Que castram, que sonegam;
Não sei se tenho pena de ti...
Ou desse mundinho em que tu vives,
Prisioneiro da tua vaidade...
da tua ignorância...
da grandeza que imaginas ter.

Esse é o mundo de muitos...
dos que ainda não sabem que:
"A diferença entre a prisão e a
liberdade é uma linha muito tênue,
e está na consciência de cada um".

Liberte sempre... tudo e todos!
Pois o AMOR que prende não existe,
E só quem AMA de verdade, pode,
um dia conhecer o que chamamos,
de FELICIDADE!


PRA QUEM SABE ONDE CHEGAR!

Sim...um dia eu pensei em desistir!
Pensei que não valia a pena lutar,
Que a vida é sonho sem caminhar,
Mas poucos conseguem construir!

Sim...um dia eu pensei em desistir!
Por que os fracos desistem no caminho,
Não se sustentam na longa caminhada,
E buscam sombras pra chorar sozinho!

Sim... um dia eu pensei em desistir!
Desistir da vida, dos sonhos, da caminhada,
Quanto mais eu me via na estrada,
Mais sozinho eu estava comigo...
Só espaço, sem abraço, sem abrigo,
Sem força, sem fé, nem esperança,
E via que são longas as distâncias...
Solito sem a palavra de um amigo.

E no passar do tempo, tive sonhos,
Tive outros caminhos e a mesma vida...
Vi muitos “adeus” de despedida...
Mas desistir agora? - se fui escolhido,
Não vivo esquecido, não vivo perdido,
E em cada passo que dou, que busco,
Encontro pelos caminhos ofuscos...
A força de um abraço pretendido.

Todos nós sabemos o nosso final...
E queremos uma longa caminhada!
Somos andantes dessas estradas,
Vagando pelas veredas do destino.
- Muitos são errantes, peregrinos,
Perdidos na imensidão de si mesmo,
Vagando na angustia do a esmo,
Frágeis e solitários “umbraldinos”.   

Sim...um dia eu pensei em desistir!
Como desistem os pródigos ateus...
Pobres ínfimos incrédulos de Deus,
Que não sabem o caminho a seguir,
Que não conhecem o valor de um sorrir,
Embriagados no mal que os seguem,
Onda a vida de valores reneguem,
Sem saber do que ainda há por vir!
Encontrei por estradas tão estreitas,
As pedras que outros deixaram...
E sem forças novamente retornaram,
Pelo frágil preceito de andador...
Não me deixou ser escravo da dor...
E pelo mundo me fiz um andante,
Com a certeza que faz jus aos amantes,
Vale a pena caminhar em busca do amor.

Somos todos peregrinos deste mundo,
Andantes por estradas e caminhos...
E todo aquele que andas sozinho,
Viajor de um mundo de solidão,
Onde o tempo, ceifará sem perdão,
Co’as forças que fazem seguir em pé,
Morrerão sucumbidos e sem fé...
Inertes pelas clausuras da solidão!

Por isso nunca faça igual à mim,
Que um dia já pensou em desistir,
Pois sempre haverá luz no porvir,
Embora a noite, traga a escuridão,
O tempo, o único dono da razão,
Da certeza que chegarás até o fim...
Quem sabe queiras andar junto à mim,
Na fé que me dá força, ao coração!

Não...eu nunca mais vou desistir!
Já vi que será longa a caminhada,
E vamos todos, andar de mãos dadas,
Abraçados nos mesmo sentimento,
Não importam as agruras dos momentos,
Não importam as dores que trago,
Não importa se o caminhos são largos,
O que importa é o que guardo aqui dentro.

E aqui, há um espaço, muito grande,
Onde há sonhos, vida e esperança...
Que pouco importam as distâncias,
Os caminhos que tiverem a seguir...
Se um dia eu pensei em desistir...
Talvez seja por ter chegado ao fim,
Não...por favor, não desista de mim!

Que eu nunca...nunca desistirei de ti!

Pra quem faz Pátria de acavalo!

Boceja um sol de agosto,
sobre a quincha do rancho,
Baetando aba dum poncho,
Num mundo, fundo de posto,
Tem olhos de contragosto,
Na manhã que mostra a cara.
Lá donde o tempo não para...
Talvez por ser andarilho,
Terrunho mapa que trilho,
Por entre barro e taquara.

Silêncio quebrado a canto,
No bico afiado dos galos...
Que sincronizam os estalos,
Do graveto, no mesmo pranto,
O mundo em que me garanto,
Que é escola a donde estudo,
Um par de esporas goeludos,
Talvez cansadas de tê-los...
Vão mordendo couro com pelo,
Das paletas dum culmilhudo.

É bruxa a lida de um taura...
Nas madrugadas terrunhas,
Tirando o barro, das unhas,
E felpas de algum palanque,
Antes que o dia se abanque,
Já está lidando co’s malos...
Trazendo o corpo no embalo,
De um bocudo que de pega,
E por maula não se entrega,
Gritando: forma cavalos.

Pra um domingo de agosto,
Geada bordando o macegal,
Dançando o mesmo ritual...
Do campo, fundo de posto,
O minuano que traz por gosto,
Alguns versos desafinados...
Bordoneando nos alambrados,
Retintando, nas pontessuelas,
Quem sabe restos de estrelas,
Pra meus olhos tresnoitados.

O galpão é templo sagrado
Aonde o taura busca a reza,
Comungando com quem preza,
Num mate bem encilhado...
E Deus Mateando à meu lado,
Porque Ele sabe o que tenho,
Do Santo chão donde venho,
A fé faz parte da vida...
Só me guardando na lida,
Neste Rio Grande Sureño.

O mouro, campeando o rastro,,
Fica bombeando a coxilha...
Rebuscando nas maçanilhas,
A liberdade dos pastos...
Ouvindo o versos dos bastos,
De “coscojas” e nazarenas...
E um pala branco que acena,
Sob as abas de um chapéu
Campeando o azul do céu,
Nos olhos de uma morena.

E é bem lá depois do passo...
Na volta de um corredor,
O Mouro sabe o parador,
E todas as voltas que faço,
Quando o calor de um abraço,
Banhando a águia de sanga,
Traz o aromas das pitangas,
E de amoras amadurecidas,
Como amarrando-me pra vida,
Com abraços de japecangas.

Nunca precisei de mapas...
Para saber por onde ando,
Pois quem nasceu gauderiando,
Levando a vida aos tapas...
Nunca precisará de mapas,
Traçados por convenções...
Porque a lei dos galpões,
De quem já nasceu liberto,
É saber o caminho certo,
Sem se dobrar aos padrões.
  
Não sei viver doutro jeito,
Sem a liberdade que tenho,
Sem esse amor ferrenho...
Que pulsa dentro do peito,
Talvez seja o meu defeito,
De nunca empinar o nariz,
Pois muita gente, me diz,
E não me importa escutá-los,
Só tenho a China e um cavalo,

E me basta, pra ser feliz!

Partiu!

Partiu!
Meu coração se partiu,
Outros corações se partiram,
O Rio Grande chora...
O Coração do Rio Grande chora.
A vida para... os olhares param,
Não há sorriso, não há luz!

Quem viu, jamais esquecerá;
Quem não viu, nem imagina!
A noite escureceu... a lua não veio,
as estrelas ofuscaram-se;
Vieram murmúrios, gritos,
...depois o silêncio e dor!

A gente tenta entender a vida,
Mas quando os sonhos se partem,
Não há vida... não há esperança,
Ficam perguntas sem respostas,
e desculpas sem sentido.

Minha Santa não será mais a mesma!
Haverá sempre um olhar de tristeza,
um sorriso desbotado, uma dor escondida;
Talvez o tempo, quem sabe, só o tempo,
(senhor de todas as verdades...
Dono de todas as lembranças...
Ideal para todas as angústias)...
Só o tempo poderá dizer o que ainda não ouvi.

A certeza é incerta!
Os pensamentos são vagos!
A esperança calça esporas...
...e a vida perde o sentido!

Muitos Partiram!
Outros ficaram!
E o que será o amanhã?
Talvez seja apenas mais um dia,
de clamor, de oração, de incertezas;
Enquanto os ratos se desviam pelos
tuneis fétidos do poder...
Enquanto as leis libertam monstros,
das clausuras da ganância;
Enquanto rostos maquiados desfilam
nas lentes da fama,
Meus olhos pairam diante da justiça...
Bocas clamam, lágrimas rolam...
Mães enterram filhos...
...sem saber, o por quê!

Meu coração Chora!
Por que chorar vale a pena,
Por que lágrimas são remédios,
Por que amor não tem sexo,
não tem raça, não tem tempo,
não tem distância:
A dor é de todos que são verdadeiros,
que são humanos e que são reais...
Pois não vivem nas sombras imundas,
que separam os sonhos, do poder!

Talvez nunca...ninguém entenderá,
Talvez nem o tempo entenda...
Que a justiça é injusta...
Que o poder manda...
Que o dinheiro corrompe...
E que a vida vale muito pouco,
para muita gente.

Partiu!
Meu coração partiu!
Outros corações partiram!
Por que antes de querer tudo,
quero apenas ouvir o meu coração,
Por que só me basta ele para viver,
para sonhar e para ser feliz!
Simplesmente, Feliz!


O Que a História Não Me Contou

Busquei nas folhas do tempo.
O que a história não me contou...
O que a vida sempre me negou,
Fatos que hoje eu lamento,
Que são dores, ressentimentos,
Fardos pesados, que eu trago...
Quando ao silêncio, indago,
Vendo tanto ódio e maldade,
Que chega a ser crueldade...
Dos que se adonaram do pago.

Descobri que esta gente...
Só conta um lado da história,
Só contam os feitos de glória,
De um passado inconseqüente,
Que matou tantos inocentes...
Em barbáries, carnificinas,
Onde a ganância malina...
Manchava a baldes de sangue,
Os campos deste Rio Grande,
Da Velha Pátria Sulina.

Rebusquei n’algum retrato,
Que o tempo, já amarelou,
E descobri que quem lutou.
Não teve história, nem fato,
Eram índios, negros e mulatos,
Vivendo à beira da fome...
Que forçados por esses homens,
Com estrelatos de Coronéis...
Estampavam o ouro dos anéis,
E o peso de um sobrenome.

Que de dentro dos gabinetes,
Ou das estâncias de luxo...
Se fingiam de ser gaúcho,
Entre cupinchos e mandaletes,
Que iam reculutando ginetes...
Peões, escravos e lavradores,
Que se dobravam aos senhores,
Com promessa de liberdade...
Numa mentira de igualdade,
                                                                       De quem nunca conheceu valores.
  
Assim ergueram bandeiras,
Com suas pilchas de trapos,
Trastes humanos, farrapos...
Resenhando fronteiras,
Onde a adaga cortadeira,
Ditava a regra da vez...
Sangrados mesmo que rês,
Na crueldade das degolas,
Vendiam a vida, por esmola,
Sem entender o que fez.

Morreram pelas coxilhas...
Qual um matungo sem dono,
Atirados ao triste abandono,
Como se não tivessem família,
Sustentando a saga caudilha,
Peleando de sul a norte...
Só se entregavam pra morte,
E a morte não tem pena,
E infelizmente, só condena,
Os que nasceram sem sorte.

E a sorte que eu me refiro,
É a simplicidade de um berço,
Não sei se, hoje, eu mereço,
Ter a Pátria que admiro...
Se o mesmo ar que respiro,
Faltou há tantos dos meus...
Que a história, podre, esqueceu,
Para contar suas bravatas...
Desses caudilhos de gravata,
Que se acham maiores que Deus!

Sei que serei condenado...
Pelo meu modo de pensar,
Dos que só sabem condenar,
Sem conhecer o passado...
Tudo o que têm, foi herdado,
Passados de Pai pra filho...
Talvez, por eu ser andarilho,
Que a vida fez-me conhecer,
O que a história tentou esconder,
Dos que chamamos de caudilho.

Pois o caudilhismo foi atraso,
Foi morte e foi crueldade...
E os que pelearam de verdade,
São os esquecidos do acaso,
Sem aurora e sem ocaso...
Num tempo sem liberdade,
Num mundo sem igualdade,
Vagando diante as cancelas...
Ou pelos barracos das favelas,
Nos arredores das cidades.

Se, hoje, alguém reclama...
Por um pedaço de terra,
Talvez sejam os netos da guerra,
Que Pátria nunca proclama,
Onde a ganância faz cama,
Atrás de grandes muralhas,
De quem faz curso de canalha,
E se vende por dinheiro...
Dando tudo pra’o estrangeiro,

E ao nosso povo, só migalha.

O Mundo que eu criei!

Não... 
Não me olhem assim!
Como se o mundo que criei pra mim,
Fosse um mundo de ilusão!
Não...
Não me olhem com olhar de pena,
Porque o teu olhar me condena...
A um viver sem coração!
Sim... Criei um mundo pra mim,
Sem ódio, sem rancor, sem rebeldia,
Feito de sonhos e de poesia...
De sentimentos e de comunhão,
Ande a vida e a paixão...
Não são metáforas, são reais,
E todos são tratados iguais,
No mesmo amor de um coração!
Neste meu mundo imaginário,
Feito de palavras e fonemas,
Onde os dias são poemas...
Escritos da forma mais pura,
Que alimenta a minha loucura,
Na singeleza dos versos,
Como se todo o amor do universo,
Imergisse de uma só criatura...
Criei meu mundo nos poemas,
Em cada verso já escrito...
Talvez não seja tão bonito,
Nem tenha o encanto da flor,
As vezes carregados de dor...
Porque a dor é parte da gente,
Que chora, que sofre e que sente,
Por um bem chamado de amor!
Talvez seja essa loucura,
Que a alma guarda de jeito,
Que vem amargando o peito,
A boca seca, o olhar se derrama,
E o mundo vira num drama...
De sentimentos mal fadados,
Onde os amores resguardados,
Ardem no peito de quem ama.

Não... 
Não me olhem como um louco,
Nem queiram me fazer pouco,
Por eu ser apenas sentimento.
Sei...
Sei que há outro mundo diferente,
Onde a vida se ressente...
Nos impropérios de um tempo!
Sim...sei que o mundo que há em mim!
São entre quadro paredes...
Um lampião, um banco, uma rede,
Uma escrivaninha, um papel,
E um quadro azul de um céu,
Que adentra pela janela...
Um vazo com uma flor amarela,
E cortinas negras de um véu!
Nas mãos, restos de vida,
No olhos dor e lembrança,
Na alma uma eterna distância,
Que me separam dos normais,
Lá fora todos são iguais...
Aqui dentro, tempo e solidão,
E o desprezo ante a razão...
Dos que sonham sem ideais.
Grades trancando corpos,
Mas mentes com liberdades,
Aonde a pena da saudade...
Bailando numa folha branca,
Vai me soltando das trancas,
Na simplicidades dos versos,
Onde há um céu por universo,
Sem prisões e sem distância.
Me prenderam como louco,
Mas não me tiraram a palavra,
Pois se há tanta mente escrava,
Do preconceito, da ignorância,
Semeando o ódio, a ganância, 
Alimentando corpos insanos,
Pois loucos são os desumanos,
Que se escondem na arrogância!
Eu nunca fiz mal a ninguém...
Não sei, hoje, o que eu devo,
Só sei fazer o que escrevo...
São as razões dos meus dias,
Talvez minha única alegria,
Preso num templo dos loucos,
Sonhando, cada dia, um pouco,
Em mudar o mundo com a poesia!

Não...
Não me olhem com olhar de pena
Porque a vida me condena...
E eu vivo só de teimoso!