A paz que germina frutos,
No silencio dos casebres,
Se quebrou o uivo dos lobos,
Sedentos da mesma febre...
Vestido em pele de cordeiro,
Comendo na mesma mesa,
Espalham a dor que resiste,
Para os olhos da incerteza...
A Mão da simplicidade...
Abraça há tantos por igual,
Por viver com o bem por perto,
Já desconhecia do mal...
A Mão da simplicidade...
Que tinha sonhos e encantos,
E acariciava ternas notas,
Para enriquecer o seu canto!
Talvez o tempo não saiba,
Talvez a vida lhe guarde,
Mas as relíquias herdadas,
Tem marcas de saudades,
Marcas de outros tempos,
Que o tempo mudou de cor,
O papel timbrado das notas,
Não pagam o seu valor!
Essa gaitinha que pra muitos,
É apenas mais um objeto...
Foi relíquia dos meus avós,
E sonhava deixar pra os netos,
Foi parceira de tantas noites,
Embora não seja um tocador...
Me espantavam as tristezas,
Na hora amarga do desamor!
Quantas vezes no galpão,
Despois que todos partiam,
Acariciava minhas angústias,
Na única valsa que eu sabia?
Mal tocada, talvez, por certo...
Para quem conhece de cantiga,
Mas era perfeita para mim...
Que tinha a gaita como amiga!
Um dia chegou no rancho,
Não sei vindo de onde...
Alguém que a vida por si só,
Olha de longe e se esconde,
Mas abri a porta da casa...
Dei abrigo, como sempre faço,
Matei a fome e a sede...
Dei um cobertor de abraços.
Aqui no rancho é assim,
A gente pouco se importa,
Todos chegam e se abancam,
Não há tramelas nas portas...
As janelas sempre abertas...
Mesa farta e cama quente,
Mas, às vezes, o mal se faz,
E leva uma parte da gente!
E a gente por ser do bem...
Por viver rodeado de amigos,
Não vê o sorriso da maldade,
Nas artimanhas do perigo,
E a minha gaita parceira,
Tinha timbrado o meu nome,
Foi levada sorrateiramente...
Por quem eu matei a fome!
Não sei em que dia foi...
Ninguém sabe, ninguém viu,
Não tem uma testemunha,
Só sei que a gaita, sumiu...
Ficou uma dor angustiante,
Um par de olhos perdidos,
Uma incerteza inconstante,
De ajudar um desconhecido!
Fui dar parte ao delegado...
Procurei o Juiz, Promotor,
Andei por muitos costados,
Sem encontrar o comprador,
E descobri que outras tantas,
De casas simples, qual a minha,
Foram levadas do mesmo jeito,
Sem lhe dizer por que tinha!
Às vezes, eu fico pensando...
Como pode existir a maldade?
Quem compra essas relíquias,
Sem conhecer a identidade?...
Talvez seja pior que o ladrão,
Pois esse já se sabe o fim...
Levaram mais que uma gaita,
Levaram uma parte de mim!
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