sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Mariazinha Papeleira!

 Mariazinha Papeleira,
Era tão miudinha...
Que chamavam Mariazinha,
Mas o certo seria, Maria guerreira!

Eu conheci a Mariazinha...
Numa noite clara de lua,
Andando ali pelas ruas...
As catas de Papelão,
Levando um filho pela Mão,
Como quem leva uma criança,
Sem se importar co’a distância,
Que existe na solidão!

Não tinha um rumo certo,
Sem um local pra pousada,
Não tinha casa para morada,
Eram andantes, andarilhos...
Nos olhos tristes, sem brilho,
Uma esperança incontida...
De quem largou tudo na vida...
Para viver junto do filho!

Maria Helena de Bragança,
Pereira, Azevedo e Corte Real,
Já fora esposa de General...
Já fora filha da nobreza...
Já desfilara na certeza...
De bailes, festas, saraus,
E nos clubes da Capital...
Vivera entre a riqueza.

Empregados nem contava,
Dama de honra, companhia,
As Madames da Lombardia,
Os encontros, os olhares,
Museus, viagens, solares...
Perdeu a conta de tantos...
Luzindo vestidos brancos...
Como as deusas nos altares!

Taças folhadas a ouro...
Talheres da mais pura fineza,
Toalhas bordadas nas mesas,
Com os brasões de Alfarràs...
Vivendo seu mundo de paz,
Quais esses contos de fada,
Que parecem serem cuidadas,
Pra não padecer nunca mais.

Mas a vida tem um preço...
Às vezes se paga co’a sorte,
Sentiu de perto a morte...
Ficou órfã muito cedo...
Carregando olhos de medo,
Parece ter chegado sua vez,
Sentindo o peso da viuvez...
Na trama do próprio enredo.

Ficou com filho nos braços,
E o seu encanto de rainha,
Entre os caminhos que tinha,
Eram tantos no apogeu...
Mas o menino cresceu...
Diante as mazelas que cobra,
E se viu diante das drogas...
E com as drogas, se perdeu!

Foram anos de eterna luta,
De pedidos, de internações,
De sofrenaços e de tirões...
Diante a tamanha desgraça,
Uma cortina de fumaça...
Para os olhos da sociedade,
O moço se foi sem piedade,
Por outras ruas e praças.

Na mãe veio o desespero,
Que adianta tanta fortuna,
Se a vida, por vez, arruma,
O mal que se perpetua...
Pois o bem, às vezes, atua,
Pelas lembranças que tinha...
Largou seu posto de rainha,
Para também viver nas ruas.

É por isso que, hoje, Maria,
Mendiga um tempo de novo...
Para as chacotas do povo,
Vem contemplar suas preces,
E por certo que ela merece,
Apesar do olhar sem brilho,
Não importa como esteja o filho,
Uma Mãe jamais esquece.

Mariazinha Papeleira,
Era tão miudinha...
Que chamavam Mariazinha,
Mas o certo seria, Maria guerreira!

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