No meu tempo de criança,
Foi parte de uma infância,
De sonhos e de saudades,
Nas longas e ternas tardes,
Num tempo de relicários,
Fiz meu mundo imaginário,
Com gosto de felicidade!
As suas flores coloridas,
Que cobriam todo o chão,
Era um mundo de ilusão...
Enfeitando os brinquedos,
Onde deixava os medos,
Embalado nos teus galhos,
Sentindo as gotas do orvalho,
Te confessando segredos.
Ah! Se Jacarandá falasse,
Quantas coisas tu dirias...
De mim, quase tudo, sabia,
E o que não sabia, imaginava,
Quando sorrindo, abraçava...
As crianças que brincavam,
Que corriam, que gritavam,
E que só eu e tu escutava.
E as brigas por brinquedo,
Pela boneca mais bonita,
Pelos vestidos de chita...
Das bonecas preferidas,
Das casinhas escondidas,
Atrás do mundo encantado,
Das mocinhas e soldados,
Dos encantos dessa vida!
Que pena que tudo passa,
E a gente cresce, Jacarandá.
E o tempo que ficou lá...
Nas brincadeiras e abraços,
Naquele pequeno espaço,
Sob teus braços, meu amigo,
Ainda guardo comigo...
Sem mesmo saber o que faço.
Lembro de uma tarde quieta,
Que vi minha Mãe, espiando,
E me pegou ali conversando,
Com quem ela nunca via...
Pois somente eu que podia...
Quando estavas ali contigo,
Como eram tantos os amigos,
Que a infância me permitia!
Depois, que o tempo se foi...
E os amigos foram também,
Nem brinquedos mais se tem,
Nem bonecas, nem soldados,
Nem os sonhos encantados...
Das crianças em algazarras...
Os trens de lata – as cigarras –
Do pátio do meu passado.
Daquele balanço antigo...
Que por horas me embalava,
E por instantes, eu voava...
No céu dos teus abraços,
Tendo o mundo nos braços,
Com as asas da liberdade...
Enfeitando a longas tardes,
Pelos caminhos que faço!
Hoje, eu te vejo ao longe...
Pelas lembranças antigas,
Por certo, ainda, tu sigas,
Embalando outras crianças,
Encantando outras infâncias,
Que não sinto, que não vejo,
Alimentando outros desejos,
Talvez de suma importância.
Mas nem tudo é sonho...
O mundo que a gente traz,
E aquele tempo de paz...
De crianças e de brinquedos,
De pátio grande, arvoredo,
Deram espaço às grades...
Onde os olhos da maldade,
Encerra tudo mais cedo!
Ficou um Jacarandá triste,
Erguido junto à avenida...
Com as folhas retoricadas,
De galhos secos e sem flor...
Longe dos olhos do amor,
Sem um olhar de esperança,
Sem boneca e sem criança,
Até o Jacarandá morre de dor!
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