Vem da adaga empunhada dando pontaços da solidão,
Senhor da escuridão, enche meus olhos d'água…
Vêm provocando a mágoa que acampou num coração!
O vento geme lá fora, vestindo a pele dos lobos…
Brincando neste jogo, que quem não joga é covarde,
Pra muitos parece tarde, pra vida é só um recomeço,
O que muda é o endereço, mas o resto é só saudade!
Porque tu gritas comigo, provocando os meus medos?
Porque escondes segredos, se o segredos não calam?
Porque eu ouço estas falas que pela noite se solta…
Não há ninguém na volta, somente um cuco na sala!
Há um badalo de sino blimblinando nos pensamentos…
E a chuva traz lamentos em gotas de olhos vazios,
Todo mundo já dormiu (ou quase todos que queira),
Somente um grilo porqueira, que ainda tilinta de frio!
E vai jogando a sua ira numa Rebeca desafinada,
Com cordas mal espichadas e seu mau jeito de tocador…
Quem sabe sofras de amor, fugindo dos pensamentos…
Com esse toque nojento, somente pra espantar a dor!
Me diz aí, senhor silêncio, porque tu gritas comigo?
Talvez só esteja contigo, por conta daquela cena…
Em que minh'alma pequena, se encantou por quem não devia,
E, hoje, sofre, vazia, nos rabiscados de uma pena!
A noite bebe a angústia, que a madrugada lhe serve…
Que o tempo me reserve, por certo o que mereço,
Pois tudo tem um recomeço e recomeçar é preciso…
Meu mundo é meu paraíso e o resto é apenas adereço!
Apagou-se o fogo e as brasas, por me ver aqui sozinho…
E mais uma garrafa de vinho, tilinta numa gota rasa…
Só este silêncio faz casa, em cada palavra escrita…
Pois quando a alma medita, a poesia ganha asas!
Deixo uma parte de mim, bailando por entre linhas,
Dançando uma valsa, sozinha, cada letra com seu par…
Quem sabe quando acordar desse maléfico pesadelo…
Silêncio, eu posso tê-lo, sem contigo, me estranhar!
Por isso deixa-me dormir, que amanhã é outro domingo,
Não quero mais os respingos, de insônias e nostalgias…
Leva embora essa agonia, esses pensamentos gritantes,
Esse corpo cambaleante, co'a última taça, vazia!
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