quarta-feira, 31 de maio de 2023

Maria Louca, não era louca!

Maria Louca, não era louca…
Ela era apenas diferente...
Tinha um sorriso inocente,
Olhos grandes, marejados,
E um caminhar apressado…
Corpo de pequena estatura,
E a alma branca em candura…
Com lampejos, amargurados.

Maria Louca, não era louca...
Era apenas mais uma Maria.
Dessas, que vagam de dia…
E à noite encontram-se com Deus,
Nunca soubera o que é seu…
Por não se apegar à matéria,
Preferiu os preceitos da miséria,
No mundo que ela escolheu.

Andara por tantos caminhos,
Alheia aos olhos de tantos…
Sufocando as dores e o pranto,
Na triste sina dos andejos…
Dos que nunca tiveram desejos,
Nem o mundo por facilidade…
Sucumbindo ao tempo, a idade,
De um destino malfazejo.

Mas, Maria, já fora criança…
Já tivera sonhos e bonecas,
Já fora uma menina sapeca,
Quais tantas outras meninas,
Sem saber que a sua sina…
Um dia a mudaria de rumo,
Tirando sua vida do prumo,
Pelo vazio das esquinas.

Perdera a Mãe muito cedo,
Do Pai, nem sabia o nome…
Vivera à beira da fome…
Vagando pelos orfanatos,
Conhecendo tristes relatos,
De tantas outras Marias…
Que tinham almas vazias,
E a dor de um mundo ingrato.

Crescera vagando sem rumo,
Roubando para matar a fome,
Objeto de uso dos homens…
Que usavam sua carne fria,
Em fogosas noites de orgias,
Em troca de alguns minguados,
Deitou-se a alma em pecados,
Para matar a fome, Maria.

Viveu a mais chula paixão,
Na sina das condenadas…
Que amam e não são amadas,
...e sofrem com a sua dor…
Que vivem o intenso amor,
Na lâmina fria da pena…
Sofrendo a dor da condena,
De quem nunca lhe deu valor!

A moça de corpo esguio…
Que foi ficando envelhecido,
Não haviam mais preteridos,
Não haviam mais os clamores,
Os corpos perdem valores...
Com a idade que chega inata,
E a vida outra vez, maltrata…
Neste mundo dos desamores.

Maria Louca, não era louca,
Ela escolhera viver assim…
Só esperava chegar ao fim,
A vida e seus desenganos…
Cansada de passar os anos,
Alheia, suja e mal falada,
Já não esperava mais nada,
De quem se diz ser, humano!

Um dia, morreu sozinha,
Tão sozinha como vivera,
Cansada de tantas rasteiras,
Deste mundo de preconceitos,
Que talvez não dera o direito…
E uma vida, por certo, foi pouca,
Pra Maria, que nunca foi louca,
E só era feliz, do seu jeito!

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