Não sei se os sonhos acabaram,
Ou se a razão de viver, terminou...
Foram as lembranças que hibernaram,
No único sentimento que ficou.
Mas vejo o meu tempo passando,
Sem ao mesmo poder segurá-lo,
E um coração segue corcoveando,
Qual um potro sem deixar domá-lo.
Olhando por um espelho quebrado,
Vendo minha imagem destorcida...
Pouco vejo do que fiz no passado,
Pouco vejo o que faço nesta vida.
Mas sinto na frieza do pensamento,
Embriagado à minha própria saudade,
O mundo que se perdeu no tempo...
Não dá tempo para eu ser verdade.
Escondido na poeira das cortinas,
Na vidraça duma lembrança antiga,
As gotas que me nublaram retinas,
Trazem a dor que em mim se abriga...
E forma um rio de água transparente,
Gosto de sal que vem pingar na boca,
É uma saudade se fazendo presente...
Fica gritando como uma Diva, louca.
Então me fecho, por sentir assim,
Órfão dolente a buscar espaço...
Preso ao tempo que cravou em mim,
A lâmina afiada de um punhal de aço.
E um peito sangrando de dor e de dó...
Retalhas ao breu da noite sem luz,
E a carne franzida à forma do pó...
Adorme inerte com o peso da cruz.
Olhos abertos na busca do nada,
Sem sonhos nem estrela para contemplá-las,
As palavras escorrem pela boca gelada,
Buscando a fé pelo sonido da fala.
Quebra-se o silêncio de um quarto frio,
Na mesma loucura do mundo, sozinho,
Fecharam-se as portas e tudo é vazio,
Restando-me apenas um gole de vinho.
Me adoça a boca, sedenta de amor,
Na ânsia de vida do que ainda ficou,
Só vivo esquecido ou perdi o valor...
Ou apenas o sonho em mim acabou?
Respostas difíceis que a vida acena...
Quando a idade chega com seu ritual,
Deixaram uma folha, um bico de pena,
Me liberto num verso, sem ponto final!
Não posso viver preso no tua injustiça,
Esquecido do mundo que eu mesmo fiz,
A bondade é a luz e dever ser a premissa,
E vivemos neste mundo para ser feliz.
Amanhã será outro dia e sol brilhará...
Depois da vidraça deste quarto vazio,
Os versos são flores que alguém colherá,
Mesmo sabendo que o sonho partiu.
Então adormeço naquilo que quero...
Embriagado de vinho, de amor e de pena,
Ébrio confesso, vou te ser sincero...
Ninguém vive preso quando faz poema.
Por tanto me liberto no céu da escrita,
Eterno amante em seu sonho viajor...
Se os sonhos acabam para quem facilita,
A poesia ressuscita, na sua forma de amor.
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