segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

A volta de um desgarrado!

Debruça um sol de agosto sangrando nuvens cardadas,
E num poente de céu azul, um bando de garças brancas,
cortam campos alheios acomodando-se pelos galhos.

O tempo que andou judiando pelas garoas franzinas...
Firmou-se por dois dias e o pasto seco das geadas,
Ponteia um verde claro rebrotando várzeas e canhadas!


Um touro berra ao longe chamando a tropa em reponte,
Costeando um capão de mato, onde tarumãs desfolhados,
revivem, à busca das sombras, que foram casa e morada,
de algum tropeiro andarilho...

No beiral das sangas compridas, a passarada se aninha,
E no contracanto das pedras bocejam versos antigos...
Num tempo tão distante entre lembranças adormecidas.

Num zaino negro tapado, o cantarolar da “coscoja’,
Retrucando versos ao vento, num convite debochado,
Provocando a barbela que se acomoda no freio...
Enquanto dois olhos ariscos se perdem no horizonte...
Com orelhas de tesouras campeando o rumo das “casa”.

Sob a copa de um aba quinze, beijando a gola de um pala,
Um bigodão de dois palmos, escora a tora de um baio,
Judiando o canto da boca, ressecada a golpes do minuano,
que se adonou deste inverno.

O chão batido de um corredor, aponta o rumo do rancho
...que um dia lhe fez morada;
Depois da curva do mato, de capão fechado de angico,
O rancho avistado ao longe, ressona a luz da tapera,
na sombra de uma figueira desfolhada pelo tempo...
Que o próprio tempo esqueceu!

O rancho que já foi vida, que foi paz e aconchego,
Adormece ao relento querendo ter vida, outra vez!

E é para lá que ruma, ao tranco, após anos,
trancado nas grades da tirania, que a pena injusta lhe concedeu.
(Rebelde como os ventos, como tropa que desgarra)
Como água de enchente que não se prende as amarras...

Assim era Maneco Rosa, antes, do que sentença lhe deu.
As esporas de papagaio grande e rosetas maiores ainda...
floreiam versos campeiros, arrancando leivas de grama;
Bombacha larga de riscado, já puídas pelo tempo...
Bailam ao solfejar do vento, como bandeira em mastro firme.

E um paiñuelo maragato ruflando as pontas de galho,
Sarandeando por entre a gola e o barbicacho...
Guardam borras de um baio largado ao canto do beiço.

Voltou, como saiu...solito a repontar saudades!
Como tronqueira que segurou o tempo...
E sustentou a fio o “retrechar” dos anos,
Numa vida maula, sem paz e nem ilusão!

Maneco Rosa foi mais que isso: foi tronqueira e foi moirão!
Sustentou a Pátria nos tentos peleando contra os tiranos,
Repontou tropas, solito, para encher os bolsos alheios,
Vergou um cabo de arado para o sustento dos ranchos.

Mas um dia o destino... cruel, “bruxo” e traiçoeiro...
Fez-lhe cruzar de bolcada, depois de uns goles de canha...
com os fantasmas da morte, que teimam em rondar mentes insanas,
...e o olhar de uma china, não poderia ter outro final.

Pois quem nasceu taura e se garante na força do braço,
Tira a vida de um homem, embora não lhe queira mal,
Mas quando o sangue ferve e a carranca da morte na lâmina afiada,
Traz revolta para os olhos, se torna fácil decretar o final.

Bandido! pra muita gente... valente para outros tantos...
Mas não pode se acovardar, quem peleou tanto pela vida,
A sorte, às vezes, socorre e um dia mata ou morre...
O nunca é tão distante para quem vive de despedidas.

Maneco Rosa está de volta!
Meus Senhores...
Calam-se as bocas...
espantam-se os olhares...
O Negro Velho voltou...
ao mundo que é seu!

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