terça-feira, 5 de setembro de 2017

Silencio e dor de um excluido!

O agosto vai de longe matraqueando o tempo,
...pingando lágrimas carcomidas nos santa-fés;
Pelas frestas do rancho, passam résteas de solidão,
E um angico chorão finda a sua vida de lamentos,
...por entre as sedas e o bailado das lavaredas...
...que dançam para o luzeiros dos meus olhos.

Na frente do rancho, mais além da cacimba...
Os juncais se escondem na fumaça do lagoão,
E um socó lustra suas penas, na penúria das esperas,
...tendo o céu, tão distante entre as nuvens de algodão.

O que me restou neste fundo?
Todos partiram como aves migratórias, que precisam dos janeiros,
para a sua própria procriação...
e levam olhos de esperança, de um outro verão!

Eu, que me fiz campeiro, no lombo dos ventenas,
Arrastando nazarenas encharcadas de sereno...
Repontava madrugadas grandes à pata de cavalo,
Só por gostar do embalo de um par de olhos morenos.

Eu, que ví a forma do pampa sem cercas, nem aramados,
Sangas rasas cantando versos na costa dos paredões...
E amanhecia pelas tafonas ou rondando tropas inteiras,
Gastando horas ligeiras, enriquecendo os patrões.

Eu, que gastei a palavra para sempre horar o meu nome,
...e muitas vezes peleei por não acreditarem nela,
Vi pelas estâncias, de casas antigas e Homens de bem,
Sucumbirem a um progresso que vai trancando as cancelas.

O que me restou nesse fundo de posto?
Horas esguias, peleando sem armas na mão...
Sofrenando as lembranças que entordilharam meu rosto,
Findando em saudades por me apegar a este chão!

Ali do outro lado da canhada, depois do salso chorão...
Havia uma restinga de águas andarilhas...
...que desciam da coxilha em serpenteio as pedras,
E deslizava como aves migratórias num céu azul,
Apontando o rumo do sul, para desembocar no lagoão.

Ali, na costa do mato, onde as casuarinas deixam sombras,
para a toca das mulitas...
e as garças chegam, vestidas de noivas,
para uma espera matutina;
Bem ali, entre o lajeado e a serrilhada,
Que um picaço de boca atada,
estranhou a cantiga dos ferros,
E a força desses maulas, num redeio,
Fez estrago nos arreios....
...e na vida de um Mulato,
que deixou no frio de um retrato,
lembranças para serem eternas.

Então me pergunto?
- O que me restou deste tempo?
- O que deixaram pra mim...
...silencio de sóis em luas?
...cambonas amargas de solidão?
Resto de um pampa antigo,
Rasgado a lâminas e aço...
Basteira de campo infértil,
Que só mata a fome dos donos,
Sem gado...sem tropa...sem vida.

Agulhas de picanas a cravar-me os olhos,
Onde transbordam sangas que morrem...
...ao perceber o meu fim,
Enquanto roncam as máquinas do tempo,
Levando os sonhos de tantos quais à mim!

Venenos e pesticidas!
Riquezas e progresso!
Tulhas cheias na burra os donos...
...campeiros pobres a morrer de fome,
vendo a terra se rasgar de dor...
pressa doida à apartar os Homens,
que vagam silentes...
de dorso curvado...
de olhos marcados...
e bastos nas costas...
como tropa ao reponte,
penando na dor do mango,
 na poeira de um corredor!

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