Ou é a bombacha
Pampeana,
Se é minha alma
aragana,
Que pulsa dentro
do peito,
Se é este o meu
defeito,
De andar sempre
pilchado...
Com um lencito
esparramado,
Sobre a gola da
camisa,
Se é por não
conhecer divisa...
Então, qu´eu seja
condenado!
Se esta guaiaca
que uso...
Não tem ouro e nem
prata,
E um simples par
de alpargatas
Com cinzas d’algum
galpão,
Se a verdadeira
tradição,
Tem regras pra
sobrevivência...
Então, eu tenho a
consciência,
Que a coisa está
indo mal!...
Me desculpe, “os
maioral”,
Mas não me apego as
conveniências.
É muito bom, fazer
leis...
E ditar regras pra
esta gente!
Desfazer do que é
presente,
Gritar as glórias
do passado,
E lá num gabinete,
encostado...
Na sombra de um
movimento,
Que só mantém o
sustento,
Graças às migalhas
do povo...
Que não se
importam com o novo,
Pois vivem do
sentimento.
Pois um gaúcho não
se mede,
Por aquilo que ele
usa...
Conheço gente que
abusa,
Fazendo do cargo,
um poder,
Muitas vezes, sem
conhecer,
Os sentimentos
verdadeiros...
Parece um cabide
campeiro,
Cheio de trastes e
utensílios,
A própria vergonha
dos filhos,
Mas com pose de
estancieiro.
Me perdoem, meus
Patrícios!
Se o meu pensar é
diferente...
Mas não é a pilcha
da gente,
Nem a estampa, nem
as cores,
Me perdoem, meus Senhores!
O que vou falar de
uma vez,
Eu não nasci, pra
ser rês,
E nem tão pouco
usar canga...
Mas até pelado,
numa sanga,
Sou mais gaúcho
que vocês.
Porque aqui, aonde
eu vivo...
E lutamos para ser
liberto...
O único movimento
certo,
Que hoje é quase
uma graça,
É ver tanta gente
na praça,
Fazendo tudo ao
contrário...
Vergonha do chão
caudatário,
Alheio às leis,
que eu falo,
Dos que só
conhecem cavalo,
Nas folhas dos
calendários.
Se um dia alguém
escreveu.,
Regrando a própria
pesquisa,
Mas pra’o Gaúcho
não há divisa,
Não há cerca, nem
fronteira,
Não é o pano dessa
bandeira,
Que tremula em
mastro de ouro,
Aonde a empáfia
faz coro...
E a pilcha virou
concurso,
Só para manter o
discurso,
Dos que rebuscam
seus “louros”.
Dizem que é
castelhana,
Esta bombacha que
uso...
Mas, ninguém vê o
abuso,
Dos que andam bem
pilchados,
Desfilando de
chapéu tapeado,
Como os donos da
verdade...
Só pra manter uma
identidade,
Timbrada à grito e
grossura,
Como se educação e
cultura,
Não coubessem em
sociedade.
Pois o tempo do
coronelado,
Da imposição e do
poder...
Do mandar sem
conhecer,
São coisas do
passado,
Que um dia foi
enterrado,
A sete palmos,
neste chão...
Pois, hoje, não há
razão,
Pra ditar normas e
regras,
De uma cultura que
é cega,
E valoriza só quem
é Patrão.
O velho vestido de
xita...
Que era tão lindo
nas prendas,
A flor de
laranjeira, as rendas,
Foram trocados por
veludo,
Talvez para
avalizar estudos,
D’alguma pesquisa
fajuta...
Dos que se
vangloriam das lutas,
Sem conhecer a
verdade,
Regrando a própria
sociedade,
No interesse que
desfruta;
Quando um cargo
vira emprego,
Dos que tem gana
de aparecer,
E a valorização de
um ser,
Está naquilo que
se usa...
Quando o interesse
se cruza,
Com a arrogância e
a maldade,
As regras escondem
verdades,
Que chega, até,
ser abuso,
Onde um Negro era
escuso,
De viver em
sociedade.
Pois a tradição
está na alma,
É parte da vida da
gente...
Está no amor que
se sente,
Fincado dentro do
peito,
Está no errado, no
direito,
No que pensa e não
nega...
Está no campo, na
macega,
No sentimento e na
arte,
Tradição está em
toda parte,
Só nunca...nunca
aceitará regra!